O motociclista André Sousa, que em julho de 2020 começou uma volta ao mundo em minimota, completará a viagem em 08 de abril, regressando a Portugal após mil dias exatos de viagem e 75.000 quilómetros por 52 países.
O jovem de Oliveira de Azeméis, no distrito de Aveiro, entrará em território nacional pela fronteira de Elvas e Badajoz, seguindo depois na companhia de diferentes grupos de ‘motards’ até Aviz, no distrito de Portalegre, onde celebrará o facto de, com esta aventura, se tornar “o primeiro motociclista a ter dado a volta ao mundo numa moto pequena, numa viagem em contínuo, a solo e por todos os continentes”.
O procedimento que formalizará essa experiência como recorde mundial será depois assegurado pela marca Honda, que patrocinou o veículo em que André Sousa fez a viagem, mas, segundo declarou hoje à Lusa, a partir da Mauritânia, “o mais importante deste projeto era demonstrar que qualquer pessoa pode dar a volta ao mundo numa mota de baixa cilindrada e sem gastar muito dinheiro, se estiver disposta a organizar-se bem e a prescindir de certas coisas”.
O jovem já fez as contas e, sem considerar gasolina nem o transporte aéreo da mota quanto teve que cruzar oceanos, revela alguns números: gastou “uma média de 20 euros por dia”, o que foi possível por reduzir ao mínimo o uso de hotéis e, em alternativa, optar por cerca de 300 noites acampado e 500 estadias em casa de pessoas que conheceu ao caminho, seja através da rede ‘couchsurfing’, de associações de motociclistas ou de forma espontânea.
“Dormi cerca de 20% da viagem em quartos de hostel partilhados e uns 30% na tenda, onde as dificuldades foram muitas, desde aguentar temperaturas negativas e resistir aos ventos extremamente fortes do Saara até impedir na Costa Rica uma invasão de formigas-de-fogo, que me comiam o fundo da tenda e entravam lá para dentro”, conta André Sousa.
Entre os momentos altos da aventura o jovem lista quatro: viver os efeitos do recente sismo na Turquia, que o arrancou da cama às 04:00 e obrigou a ficar horas na rua apenas em ‘boxers’ e meias, sob temperaturas negativas; a sua prisão no México, quando foi detido devido a “coisas de que é melhor não falar”; o acidente que sofreu nos Estados Unidos, que o deixou com mazelas graves em cinco vértebras e exigirá tratamento urgente mal chegue a Portugal; e o rapto no Nepal, em que o drogaram, agrediram com pontapés e capacetes, e deixaram “para morrer num descampado isolado”, do qual saiu pelo próprio pé, “a sangrar, mais por sorte do que outra coisa”.
A essas dificuldades André Sousa acrescenta ainda a pandemia de covid-19, que, no início da viagem, tornou tudo mais complicado do que previra. “Obrigou a muita burocracia e testes respiratórios nas fronteiras, implicou muitos dias de paragem total até que reabrissem a circulação e ainda me pôs duas vezes doente, uma delas com um mês de hospitalização no Rio de Janeiro, a antibióticos e esteroides”, recorda.
Mais positivo foi “acampar numa casa do Pablo Escobar, atravessar o Grand Canyon e dormir num cemitério no meio do deserto”, pelo que, perto do final da viagem em que nunca circulou a mais de 60 quilómetros por hora, bem curvado sobre uma mota com apenas 75 centímetros de altura, o jovem com mestrado em Gestão de Empresas pela Coimbra Business School não se imagina, a partir de abril, “fechado num escritório”, num emprego convencional. “Isso era desperdiçar as competências que adquiri numa epopeia destas, principalmente em termos de organização de viagens, gestão de burocracias e superação de imprevistos”, defende.
Com os seus planos “todos em aberto”, a única certeza de André Sousa é quanto ao que retira destes três anos de existência: “Foi precisa muita resiliência, sobretudo nas situações extremas, em que a maioria das pessoas teria desistido e voltado para casa, mas, por toda a gente que conheci nestes países, por todos os que me ajudaram com donativos e por tudo o que vivi nestes mil dias, foi uma experiência única, que nenhuma universidade do mundo me podia ter dado”.