O Autódromo Internacional do Algarve (AIA) é um dos melhores circuitos do mundo. Disso ninguém tem grandes dúvidas, e sejam pilotos amadores ou profissionais, os elogios ao traçado algarvio sob a liderança de Paulo Pinheiro, CEO da Parkalgar, têm sido uma constante desde que foi inaugurado em novembro de 2008. Porém, nem tudo parece estar a 100%. Pelo menos se acreditarmos nas palavras de alguns pilotos de MotoGP.
A questão que tem sido mais comentada nos últimos dias está relacionada com a gravilha utilizada nas escapatórias do AIA, que servem para que os pilotos consigam sair de pista em segurança, seja em cima da moto abrandando antes de atingirem as barreiras de proteção, seja quando sofrem uma queda e acabam por deslizar pelo asfalto a alta velocidade.
Mas sendo o circuito homologado pelas instâncias que garantem a segurança dos pilotos, e sem essa homologação de categoria máxima não poderíamos ter corridas de MotoGP no AIA, qual é o problema que tem sido levantado pelos pilotos da categoria rainha?
A gravilha das escapatórias. Ou melhor, as suas dimensões e formato.
O mais recente piloto a sentir na pele a gravilha do AIA de forma mais gravosa foi Fabio di Giannantonio. O italiano da Gresini Racing sofreu uma queda durante a sessão de teste oficial de MotoGP, e acabou por entrar na escapatória de gravilha, tendo perdido o conhecimento durante alguns momentos.
As fotos do seu equipamento foram partilhadas por algumas pessoas nas redes sociais, nomeadamente a jornalista israelita Tammy Gorali, revelando os estragos, particularmente impressionantes ao nível do seu capacete.
Di Giannantonio, ao explicar o que aconteceu ao portal The Race, refere que “Estava a deslizar pelo asfalto e assim que toquei na gravilha foi como uma explosão. A minha cabeça bateu na gravilha e apaguei por completo”, tendo depois continuado a falar sobre o tema pedindo mais atenção à organização: “Prestamos tanta atenção ao equipamento dos pilotos, às curvas, às linhas dos circuitos, que isto também tem de ter regras. É como chocar contra uma parede. Se temos de competir assim, mais vale ir ao Mónaco que tem mais espetáculo e o risco é o mesmo. Estou chateado por perder um dia de teste (o piloto foi impedido de rodar no domingo pelos médicos) e ter esta situação em que perco três ou quatro dias de treinos em casa apenas por causa da gravilha”.
O piloto italiano junta-se também a um lote de pilotos que tem vindo a pedir alterações à gravilha no Autódromo Internacional do Algarve.
Di Giannantonio refere que “Este ano pedimos para voltarem a trocar a gravilha, como fazemos há muitos anos. Para estes dias de teste apenas trocaram na curva 1, mas não no resto do circuito. Não sei se o vão fazer para a corrida. Dizem sempre que ‘sim, vamos fazer’, mas tinha de ter sido feito já para este teste e parece que não foi”.
Quem tem sido também uma voz ativa na procura da melhoria da segurança dos pilotos de MotoGP tem sido Aleix Espargaró. O piloto espanhol da Aprilia Racing foi questionado sobre o tema da gravilha no AIA, e foi bastante contundente na sua resposta: “Já não quero falar mais sobre isto. Já são quatro anos a falar deste assunto e ninguém ouve. Já o disse várias vezes. Ontem (1º dia de teste) o Maverick teve um problema com a gravilha e o Fabio di Giannantonio também. Mesmo em Jerez falámos 1000 vezes antes de a mudarem”, referindo-se às alterações realizadas nas escapatórias do circuito andaluz depois das insistências dos pilotos.
Alterações que têm sido pedidas para outros circuitos, como por exemplo o de Mandalika, na Indonésia, onde os pilotos também se queixam da dimensão das pedras de gravilha nas escapatórias.
Esta questão da gravilha nas escapatórias do Autódromo Internacional do Algarve não acontece apenas após o teste oficial realizado no passado fim de semana.
Recordamos que já em 2022, particularmente durante a segunda sessão de treinos livres de MotoGP a contar para o Grande Prémio de Portugal, Francesco Bagnaia (Ducati Lenovo Team) sofreu uma queda na curva 3, e as câmaras de TV filmaram o piloto italiano a apanhar e levar uma mão cheia de gravilha da escapatória, que depois entregou a Davide Tardozzi, diretor desportivo da equipa Ducati.
Na altura, quem assistiu à cena ficou surpreendido, mas Bagnaia rapidamente esclareceu do que se tratava: “Por causa da queda que tive, certamente a moto estava muito danificada porque a gravilha é demasiado grande, não é lisa como noutros circuitos. Isso é algo que temos de falar na Comissão de Segurança. Já nos queixámos o ano passado (2021) quando o Jorge Martin caiu. Se virem, em cada queda em que chegamos à gravilha nesta pista começamos a rebolar muito. E isto significa que podemos ficar magoados por causa da gravilha, e isso não é tão seguro”, referiu na altura o agora campeão de MotoGP, que fez questão de comparar com outro circuito:
“A melhor gravilha na escapatória é em Misano: pedras pequenas, lisas e redondas. Aqui (Portimão) não é apenas uma questão de formato e tamanho, é também muito compacta. Por isso quando chegamos à gravilha não afundamos, continuamos a rolar”.
Na tentativa de percebermos melhor o que se está a passar com a gravilha das escapatórias do traçado algarvio, contactámos o Autódromo Internacional do Algarve para obter uma reação a toda esta polémica.
A resposta chegou-nos através de uma fonte oficial nos diz apenas que “A gravilha está homologada e aprovada… nada mais tem o AIA a dizer sobre isso!”.
Uma resposta curta, e que nos aponta o caminho para a homologação que é conferida aos circuitos para que sejam aprovados para acolher os diferentes tipos de competições, neste caso MotoGP.
Por isso, e no seguimento da reposta que recebemos por parte do AIA, decidimos verificar o que diz o regulamento referente aos Padrões dos Circuitos, e que pode ser encontrado no website oficial da Federação Internacional de Motociclismo.
A primeira nota que deve ser destacada em relação a este documento que apresenta uma série de indicações regulamentares para os circuitos de MotoGP, é que o mesmo foi publicado a 3 de fevereiro de 2023, tendo depois sido atualizado a 1 de março. Consultámos por isso a versão mais recente do regulamento dos circuitos.
Na página 22 no ponto 4.9, a FIM explica claramente como devem ser as escapatórias de gravilha, e vai ao pormenor de definir as dimensões das pedras da gravilha, não referindo, no entanto, o formato das pedras.
Aqui ficam as principais indicações do regulamento que poderá consultar na íntegra clicando aqui :
– A superfície de gravilha deve ser completamente lisa, sem ondulações;
– A profundidade da cama de gravilha vai alterar de acordo com o tipo de gravilha disponível na região e tipo de escapatória. Como padrão, a altura da cama de gravilha deve ser de 25 cm e o diâmetro dos grãos deve ser entre 8 e 20 mm;
– Os primeiros 5 metros de cama de gravilha devem crescer gradualmente até se atingir a altura exata regulamentada;
– De forma a manter a eficácia da gravilha, deverá ser misturada (contrariando o afundamento) antes de todos os eventos FIM, e todos os detritos ou pedras de diâmetro maior aos grãos devem ser removidos.
Entretanto, a jornalista espanhola Izaskun Ruiz, da DAZN, esteve no circuito algarvio durante o teste de MotoGP. E antes mesmo da queda de Fabio di Giannnantonio na curva 7, e que levou novamente a falar-se na gravilha do AIA, a jornalista gravou um vídeo que publicou na sua página no Twitter a 12 de março e onde mostra a gravilha do circuito português em maior detalhe. Não indica no entanto em que curva foi gravado o vídeo.
Veja o vídeo abaixo
El día que llegué al circuito grabé este vídeo “por si acaso”… Hoy ya tenemos la respuesta : el tamaño de la grava no ha cambiado @FabioDiggia49 lo sufrió en su caída de ayer en la curva 7. Dice que su casco se destrozó. Él está bien pero es unfit el último día de test @DAZN_ES pic.twitter.com/mjunXrFuv8
— Izaskun Ruiz (@izaskunruiz) March 12, 2023
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