Moto 25º Portugal de Lés-a-Lés – 2ª etapa de Viseu a Ourém

25º Portugal de Lés-a-Lés – 2ª etapa de Viseu a Ourém


Longe do calor que tantos suores causou em 2022, o 25º Portugal de Lés-a-Lés está a ser marcado por chuva intensa e, nesta 2ª etapa que levou a caravana de cerca de 2500 motociclistas aventureiros a ligar Viseu a Ourém, até neve chegou a ser companheira de viagem.

Com quase duas centenas e meia de quilómetros a percorrer neste segundo dia, o maior evento de mototurismo da Europa, organizado pela Comissão de Mototurismo da Federação de Motociclismo de Portugal, levou os motociclistas a conduzir durante cerca de 9 horas, tendo os primeiros arrancado ainda a madrugada estava escura e o sol não recebia os viajantes em duas rodas.

Apesar das condições climatéricas adversas e que elevam a exigência da condução, dificultando um pouco mais as travessias dos pequenos percursos em terra, a verdade é que o espírito dos participantes e a entreajuda nesta edição Bodas de Prata do Portugal de Lés-a-Lés tem sido uma constante.

Aqui fica a crónica da 2ª etapa do 25º Portugal de Lés-a-Lés que ligou Viseu a Ourém, com palavras do gabinete de imprensa do evento.

Leia também – 25º Portugal de Lés-a-Lés: 1ª etapa de Bragança a Viseu

Crónica da 2ª etapa do 25º Portugal de Lés-a-Lés – Viseu a Ourém

De Viseu, ainda a noite estava escura, começou a sair caravana e, desde logo, sob fortes aguaceiros que tornaram alguns pequenos troços de terra mais complicados. Mas ninguém deu por mal empregue o primeiro esforço do dia, para visitar duas das antas que existem no Circuito Pré-Histórico Fiais/Azenha, parte do importante roteiro megalítico de Carregal do Sal.

E logo na primeira, a bem conservada Lapa da Orca, apesar de ter mais de 5500 anos, uma enorme surpresa com a descoberta de que os nobres que na véspera ‘picavam o ponto’ em Torre de Moncorvo tinham regredido à pré-história transformando-se em aguerridos, mas simpáticos Cro-Magnon.

É a história dos Moto Clubes, neste caso o do Porto, que são, desde o primeiro momento, a alma e o corpo por detrás da grande aventura que é o Portugal de Lés-a-Lés, organizado pela Federação de Motociclismo de Portugal.

Mais um troço de terra, facílimo depois de ter sido alisado pela autarquia tabuense, para descobrir as surpreendentes cascatas de Sevilha, formadas pelo pequeno rio Cavalos, afluente do Mondego, recuperando das primeiras emoções em Tábua. Onde o MK Makinas foi… uma verdadeira máquina, distribuindo fruta, água, sandes e sumos junto à curiosa Capela do Sr. dos Milagres, de planta octogonal.

O herói do holocausto que marca presença no Lés-a-Lés

Mas, claro que entre Viseu e Tábua houve lugar a outras descobertas, bastando atravessar o rio Dão para encontrar estradas com envolvente de maior verdura e lugares de um passado marcante, como a nobre Santar, com os seus solares e as curiosas aldeias de Póvoa Dão e Beijós.

Algo que só as etapas mais curtas permitem, descobrindo detalhes nunca antes espreitados no Portugal de Lés-a-Lés. Ou Cabanas de Viriato, onde pontifica a casa do herói nacional Aristides de Sousa Mendes. Tendo salvo mais de 30 mil judeus condenados à morte pelo regime nazi, o Cônsul de Bordéus morreu na miséria depois de renegado por Salazar, numa história cinematograficamente interpretada por Vítor Norte.

Que continua a marcar presença assídua na maior maratona motociclística da Europa, sempre acompanhado pela sua fiel Gina, a Yamaha Virago que nunca quer largar.

Também o sempre simpático ator reparou na placa de Venda da Esperança, onde muitos foram os pensaram numa rápida paragem para comprar um pouco de esperança para o bom tempo que tardava.

Mas como as lojas deviam estar fechadas, talvez fazendo ‘ponte’ entre o feriado do Corpo de Deus e o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, seguiram pelo belíssimo tapete da estrada nacional 17 rumo a Lourosa.

Não a mais conhecida, de Santa Maria da Feira, mas a de Oliveira do Hospital. Que, apesar de ter 14 vezes menos habitantes, tem quase o triplo da área! E tem também uma Feira Moçárabe, a 12 e 13 de agosto, que merecer honras especiais de divulgação. É que, ao lado de jovens odaliscas, que iam brindando os participantes com água, pão com chouriço e fruta, os presidentes da autarquia oliveirense, José Francisco Rolo, e da Junta de Freguesia de Lourosa, José Carlos Marques, trajavam a rigor de sarracenos.

Uma aldeia em festa em redor da Igreja Moçárabe, com 1111 anos, cujos arcos interiores apresentam inconfundível arquitetura árabe, a que se juntam outros motivos de interesse, como os túmulos exteriores ou a torre do relógio.

Inusitada queda de neve na pista do combate a incêndios

Sempre com a chuva no horizonte, desmotivando os motociclistas a despirem os impermeáveis, passagem pela Vila de Coja e Arganil, antes da chegada a Góis. Onde, depois de tantas e tão boas curvas, há sempre a garantia de uma receção calorosa a todos os motociclistas.

Nas margens do rio Ceira, no mesmo local onde foi servido o jantar numa das primeiras edições, surgiu um reforço alimentar que viria a revelar-se extremamente útil.

É que, os corajosos que optaram por seguir o itinerário principal traçado pelos elementos da Comissão de Mototurismo da FMP, gastaram todas as calorias para controlar a moto na degradada e lamacenta subida até ao aeródromo de Coentral, onde o Moto Clube de Góis registava a chegada dos mais ‘loucos’.

Subida que fez muitos rogarem pragas à organização e que parecia mais própria da versão Off-Road do Portugal de Lés-a-Lés, sobretudo na parte final, onde o muito nevoeiro acrescentava dificuldade ao piso muito estragado. Esforço recompensado pela possibilidade de assistir a um nevão na muito inclinada pista de combates a incêndios no segundo topo da serra da Lousã.

Bom, na verdade era neve artificial, mas com o nevoeiro e a descida da temperatura que se fez sentir a 1184 metros de altitude, parecia mesmo verdadeira…

Bem mais simples e com enorme beleza paisagística, a descida para Castanheira de Pera compensou em dobro todo o esforço feito a subir, com estradinhas deliciosas, por Coentral Grande, Sarnada e Pera, rodeadas de árvores autóctones e com muros decorados por musgos centenários.

A que a chuva e o nevoeiro conferiam um aspeto místico, fazendo recordar tempos de antanho, num momento único que foi perdido pelos que optaram pela alternativa. Que ia diretamente à Praia das Rocas, local que fez pensar do bem que se estaria aqui se fosse um dia de sol e temperaturas mais condizentes com a época do ano.

Perderam ainda a possibilidade de ver a Pena, belíssima aldeia de xisto, ou os poços de neve, junto à igreja de Santo António da Neve, pois claro. No inverno eram estes poços cheios com neve para depois, no verão, serem cortados os cubos de gelo que eram transportados, embrulhados em palha e às costas de jumentos, até ao Zêzere e daí para a capital.

Quando o tamanho não conta para a diversão…

Uma subida que não assustou Rui Rodrigues que trocou as mais adaptadas Africa Twin (uma XRV650 da primeira série de 1988, e uma CRF1000 edição especial do 30º aniversário, de 2018) por uma pequeníssima Honda Monkey de 125 cc.

Fã incondicional da marca japonesa, decidiu comemorar de forma diferente a edição das Bodas de Prata do Portugal de Lés-a-Lés alinhando com a 25ª Honda que comprou!

“Se era mais fácil com a Africa Twin? Talvez, mas, depois de cinco presenças com a AT, perdia toda a piada”, contou entusiasmado o motociclista que viajou desde S. Pedro de Moel a Bragança, e que, depois do Lés-a-Lés, voltará a casa pelos próprios meios.

“Claro! É que nem outra hipótese colocava. E a diversão das passagens em terra, nomeadamente da subida ao aeródromo, são impagáveis. A potência que por vezes pode faltar é colmatada pelo baixo peso e a facilidade em apoiar os pés caso fosse necessário”. O que, garante, “Não aconteceu na subida, nem na descida”.

Menos sorte tiveram outros participantes que deram trabalho à equipa da Moto Medic, com as 8 motos no terreno a prestarem apoio imediato a partir de um centro de comando móvel e com modernos meios de rastreamento.

Presente desde a 7ª edição do Portugal de Lés-a-Lés, a equipa de Luís Isqueiro teve “Mais dificuldades devido à chuva e ao mau tempo, mas apenas por causa das comunicações. Chuva que não aumentou assim tanto os incidentes e o número de assistências pedidas, antes mudou o perfil das lesões, com vários motociclistas a sofrerem quedas a pequenas velocidades ou mesmo parados, com muitos traumatismos e contusões. Aliás, entre os 17 casos do primeiro dia o mais grave foi uma entorse num tornozelo”.

E note-se que o pelotão conta ainda com a presença dos osteopadas e massoterapeutas Inês, Miguel, Edgar, Rui, Mauro e Adriana, sempre prontos a recuperar os motociclistas para a etapa seguinte. Todos profissionais formados no Instituto de Medicina Tradicional e que desde 2018 marcam presença.

O campeão trouxe a família

Quem também se divertiu à grande nos pisos de terra foi o pluricampeão nacional de Enduro e Todo-o-Terreno, Paulo Marques, que, pela primeira vez trouxe toda a família. À esposa Elisa, que já alinhava há uma década, juntaram-se os filhos Gil, Francisca (à pendura do namorado Pedro) e a mais jovem Joana. Que sempre juntos e muito divertidos são a prova mais evidente de que este é, sempre e cada vez mais, um evento familiar.

E é notório um número crescente de participantes com os filhos à pendura ou mesmo noutras motos.

Todos unidos no prazer do mototurismo como da proteção da natureza, sublinhada na passagem por Adega, Pedrógão Grande, onde em 2017, após a enorme vaga de incêndios foram plantados um carvalho e um sobreiro. Ação incluída no âmbito da campanha de reflorestação da FMP, em que foram distribuídos milhares de árvores autóctones pelos concelhos mais atingidos pelo fogo.

Além da natureza há também as descobertas históricas, como nas passagens em Cernache do Bonjardim, terra de Nuno Álvares Pereira, ou em Dornes, uma das grandes estreias deste LaL. Terra de mística templária, ostenta uma curiosa torre pentagonal, numa aldeia que, devido à subida das águas do Zêzere, ficou transformada numa península.

Tudo num dia que, apesar de fustigado por grandes chuvadas, acabou com bom tempo em Ourém, permitindo uma visita opcional ao grande e muito fotogénico castelo. E muitos foram os que, chegando cedo, subiram ao interior das muralhas, em fase de recuperação e dinamização com centro de interpretação, enquanto outros, talvez mais fatigados ou menos afoitos nestas descobertas, estacionaram numa das muitas esplanadas antes do animado jantar no Centro Municipal de Exposições.

E bem cedo foram descansar porque a última etapa do 25º Portugal de Lés-a-Lés prevê-se muito exigente. Uma tirada maratona entre Ourém e Sagres, com 425 quilómetros para cumprir em 10 horas e 20 minutos!

Vá lá que a meteorologia parece mostrar alguma clemência para o último dia da aventura.

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