Estamos em plena “febre” de radares de velocidade em Portugal, com as diversas entidades, principalmente a Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), a destacarem nas mais recentes campanhas publicitárias que “Os radares salvam vidas”. Tudo isto porque dentro de poucos dias, a 1 de setembro, conforme a Revista MotoJornal já aqui explicou em grande detalhe indicando a localização exata dos novos radares, entram em funcionamento e começam a multar os novos radares de velocidade média.
Em Portugal estes radares de velocidade são considerados como elementos fundamentais nas novas estratégias de controlo e redução da sinistralidade rodoviária.
Ao contrário dos radares de velocidade instantânea, que existem há já vários anos e que rendem aos cofres das autarquias e do Estado Português milhões de euros em multas, estes novos radares de velocidade média controlam a velocidade a que os condutores circulam em determinado percurso, medindo o tempo que um veículo demora a percorrer a distância do radar A ao radar B, início e fim de zona de velocidade média controlada.
Veja a localização de todos os radares da rede SINCRO em Portugal clicando aqui
Existirão, neste primeiro momento, doze localizações onde os radares de velocidade média estarão colocados alargando assim a rede nacional SINCRO, e de acordo com as informações reveladas pela ANSR, a implementação desta nova tipologia de radares tem um custo de cerca de 5,6 milhões de euros que o Estado Português teve de pagar.
A esperança das autoridades nacionais é que estes novos radares se revelem uma estratégia significativamente mais eficaz no combate à sinistralidade rodoviária de uma forma geral, mas, principalmente, evitem que os condutores portugueses circulem em excesso de velocidade.
Porém, esta nova estratégia nacional que estreará nas nossas estradas a 1 de setembro, há muito que é utilizada noutros países europeus, embora atualmente existam intenções de a reverter.
Em França, por exemplo, estes radares de velocidade média são utilizados desde 2012. Os denominados “radars tronçons”. Com mais de uma década em funcionamento 24 horas por dia, sete dias por semana, a entidade que tem a seu cargo a segurança rodoviária francesa decidiu desde março deste ano substituir progressivamente os aparelhos de medição da velocidade média por radares de velocidade instantânea.
Uma medida que denota um aparente “passo atrás” por parte das autoridades francesas, num momento em que Portugal assume a aposta neste tipo de estratégia e aparelhos. A substituição deverá estar finalizada até final do ano.
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A razão oficial para a substituição destes radares de velocidade média em França é de que há necessidade de optar por aparelhos que sejam mais económicos. Para além dos custos de aquisição e instalação do sistema, é agora necessário realizar um forte investimento na manutenção dos radares e substituição das dispendiosas lentes de alta resolução das câmaras.
Quem não concorda com esta alteração estratégica e visão económica é a associação francesa de automobilistas “40 Millions d’automobilistes”, que através do seu presidente, Philippe Nozière, faz questão de destacar que a presença dos radares de velocidade média nas estradas francesas é mais facilmente aceite pelos condutores, e por isso esta substituição tem outros motivos conforme referem em nota de imprensa no seu website:
“Oficialmente, a Segurança rodoviária justifica a sua substituição progressiva por outro tipo de câmaras devido aos custos mais baixos. Mas, na realidade, as autoridades estão mais preocupadas em relação à rentabilidade destas máquinas. Elas simplesmente não geram dinheiro suficiente através da emissão de multas de velocidade”.
Para Phillippe Nozière e a “40 Millions d’automobilistes”, a retirada destes aparelhos é a demonstração de que a motivação das autoridades é meramente financeira: “(os radares) Não estão lá para garantir a segurança dos condutores na estrada, mas sim para ir aos bolsos dos condutores!”.
Esta associação de automobilistas franceses refere mesmo que, em média, um radar de velocidade média emite menos de 5.000 multas por ano, enquanto um radar de velocidade instantânea chega às 14.000 multas, o que demonstrará que a intenção será acumular mais euros com multas de velocidade e não a preocupação em salvar vidas.
Esta visão por parte da associação de automobilistas franceses encontra alguma “ajuda” no website oficial da União Europeia (UE).
Na secção dedicada às políticas de segurança rodoviária, a UE destaca alguns estudos, nomeadamente realizados na Áustria e nos Países Baixos, e que revelam a grande eficácia dos radares de velocidade média.
Ao fim de um ano de testes, verificou-se uma redução da velocidade média em 10 km/h nos percursos vigiados, uma redução de 33,3% de lesões devido a acidentes, uma redução de lesões graves ou fatais em 48,8%, e a percentagem de condutores em excesso de velocidade nos percursos controlados reduziu drasticamente, citando mesmo que esse número baixou para menos de 1% nos Países Baixos.
Falta agora perceber se a introdução dos novos radares de velocidade média em Portugal servirá, realmente, para salvar vidas, conforme refere a ANSR, ou se, conforme destaca a associação francesa “40 Millions d’automobilistes”, estes radares mais dispendiosos serão “descartados” caso se verifique que não apresentam uma rentabilidade tão pronunciada como os radares de velocidade instantânea.
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