“A eletrificação do mercado britânico não é tão rápida como noutros países europeus. Queremos dar o próximo passo, mas existe uma grande diferença em relação a França, Alemanha e Suíça”, afirmou hoje à Agência Lusa, à margem da conferência SMMT Electrified, em Londres.
O português, que assumiu o cargo em 2018, instou o Governo britânico a melhorar os incentivos em termos fiscais ou através de regulamentação para a transição dos veículos de combustão para elétricos.
“Atualmente, temos disponível no mercado britânico um conjunto completo de veículos que cobrem cerca de 60% das aplicações existentes, mas falta 40% de um mercado de 40.000 camiões”, revelou.
O catálogo da Renault Trucks, que faz parte do Grupo Volvo, dispõe uma gama de veículos elétricos desde bicicletas de transporte de mercadorias a carrinhas e camiões, capazes de transportar entre 650 quilos e 44 toneladas.
Um segmento onde a empresa defende maiores incentivos por parte das autoridades é o dos camiões do lixo, à semelhança do foi feito com financiamento para a substituição de autocarros de passageiros com motores de combustão por veículos que não emitem gases com efeito de estufa.
“O mercado dos autocarros tem feito um excelente trabalho de eletrificação. O Governo tem o poder de fazer o mesmo com os camiões do lixo. São registados 2.000 por ano no Reino Unido e todos eles, em breve ou mesmo hoje, podem ser eletrificados”, defendeu.
A Renault Trucks tem duas fábricas em França, Blainville-sur-Orne e Bourg-en-Bresse, de veículos elétricos, construídos e montados na mesma linha que camiões a gasóleo, e depois exportados para o resto do mundo.
O abastecimento de baterias e microprocessadores é feito através de “cadeias de valor complexas e com múltiplos elementos” a nível internacional, pelo que Rodrigues está preocupado com as regras de origem pós-Brexit.
Segundo o Acordo de Comércio e Cooperação alcançado entre Londres e Bruxelas, os veículos elétricos comercializados entre o Reino Unido e a União Europeia (UE) que não tenham 45% dos seus componentes e 60% das baterias provenientes das respetivas regiões terão tarifas de 10% a partir de 2024.
“É algo que estamos a observar com muita atenção, porque uma tarifa de 10% sobre a importação de veículos pesados é bastante substancial. Precisamos de ter clareza porque, sem incentivos, a única coisa que isto fará é abrandar a adoção de camiões elétricos no Reino Unido”, avisou.
Carlos Oliveira Rodrigues começou como auditor interno da Renault Trucks em 2004 em França, onde cresceu e estudou.
Ao longo dos 15 anos de carreira no grupo Volvo foi diretor financeiro da Renault Trucks em Espanha e vice-presidente e responsável pelo departamento comercial da Europa, Médio Oriente e África, sediado na Suécia, antes de se mudar para o Reino Unido em 2016 como diretor financeiro da filial britânica.