Sem categoria GP de Macau com número mais elevado de mulheres em quase 70 anos

GP de Macau com número mais elevado de mulheres em quase 70 anos


Aos 18 anos, Bianca Bustamante já ouviu todo o tipo de comentários negativos e piadas misóginas dos adeptos: “‘Devias era ir para a cozinha fazer qualquer coisa para comer’ ou ‘andas sempre a despistar-te’ ou ‘as miúdas são péssimas condutoras'”.

A jovem das Filipinas será uma das três mulheres na corrida de Fórmula 4, no sábado, juntamente com a japonesa Miki Koyama, que em 2022 fez história ao vencer o Campeonato Japonês de Fórmula Regional, e Vivian Siu Wing Man, de Hong Kong.

Ao contrário da maioria dos seus rivais, pilotos a tempo inteiro, Vivian trabalha no setor das finanças. “É também uma indústria dominada por homens e por isso não me exige grande adaptação”, disse.

Mas Nadieh Jonee Schoots. a primeira mulher a competir no Grande Prémio de Motos de Macau, em 2022, disse que o domínio masculino significa que “há muita coisa que é muito mais difícil para uma mulher neste desporto”.

A neerlandesa de 33 anos diz que, “em muitos eventos”, foi aconselhada “a experimentar primeiro a moto mais pequena”, mesmo quando já tinha vasta experiência em ‘superbikes’. “Não resta outra hipótese senão lutar ainda mais”, acrescentou.

Ainda assim, Schoots acredita que “o caminho está lentamente a ficar melhor”. “As organizações e as equipas estão a começar a acordar para o fato de que as mulheres são realmente tão capazes como os homens e que vale a pena investir nelas”, disse.

É o caso de Bianca Bustamante, a primeira mulher a juntar-se ao programa de desenvolvimento de pilotos da construtora McLaren, de que saiu o sete vezes campeão do mundo de Fórmula 1 Lewis Hamilton.

No ano passado, a jovem filipina participou na F1 Academy, uma prova só para mulheres. “É tão necessário haver representação e a F1 Academy não encoraja apenas pilotos, mas também engenheiras e mecânicas, líderes de equipas”, sublinhou.

A diretora da F1 Academy é a escocesa Susie Wolff, que foi piloto de reserva da Williams.

“Tivemos muitas mulheres suficientemente rápidas para a Fórmula 1. A própria Susie Wolff estava a correr com grandes pilotos, como o Lewis Hamilton. Não há mulheres na Fórmula 1 porque os patrocinadores não querem correr riscos e entre um homem e uma mulher, escolhem sempre o estereótipo”, lamentou Bianca Bustamante.

Nadieh Schoots diz que provas exclusivamente femininas são “um grande erro”, prevendo que irão ter dificuldades em atrair patrocinadores e público: “O dinheiro seria mais bem gasto apoiando pilotos individuais”.

A neerlandesa dá como exemplo a espanhola Ana Carrasco, que em 2018 se tornou a primeira mulher a vencer um campeonato mundial de motos, o Supersport 300.

“Então para quê uma classe em separado?”, questionou.

Vivian Siu também fez história este ano ao ser a primeira mulher a competir na Fórmula 4 chinesa, mas diz que isso só prova que na Ásia “há um sentimento inconsciente de que o automobilismo é para os homens”.

A principal prova de automóveis, a Fórmula 3, que regressa a Macau, pela primeira vez desde 2019, vai voltar a contar com a alemã Sophia Floersch, de 22 anos.

Há ainda três pilotos nas corridas de carros de turismo: Leona Chin Lyweoi, da Malásia, no TCR Asia Challenge, Zhu Zhiyao, da China, na Greater Bay Area GT Cup, e a também chinesa Maggie Ren Chao, no Macau Touring Car Cup.

O 70.º Grande Prémio de Macau terá o maior número de mulheres desde 1956, ano em que o evento incluiu uma corrida só para mulheres. A vencedora foi a macaense Maria ‘Speedy’ Ribeiro.

Disputado no icónico traçado citadino de 6,2 quilómetros, o Grande Prémio é o maior evento desportivo de Macau, sendo considerada uma das provas automobilísticas mais perigosas do mundo, uma vez que, em alguns pontos, o circuito não vai além dos sete metros de largura.

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