Moto Teste Harley-Davidson Street Glide ST – Performance bagger com atitude

Teste Harley-Davidson Street Glide ST – Performance bagger com atitude


Seja de que forma ou ângulo se olhe para esta Harley-Davidson Street Glide ST, a verdade é que esta moto conta com uma aparência e dimensões típicas da marca de Milwaukee. Grande, volumosa, com a carenagem frontal Batwing tão icónica a dominar um conjunto que, a cheio, pesa 369 kg! Dimensões que podem, à partida, deixar alguns motociclistas intimidados.

Talvez por isso faça todo o sentido instalar numa Harley-Davidson um conjunto de amortecedores traseiros fornecidos pela reconhecida marca Öhlins. Não são dourados como habitualmente, mas sim totalmente pretos, para combinarem na perfeição com o conjunto enegrecido e que apenas apresenta alguns detalhes cromados no motor.

A instalação de amortecedores traseiros Öhlins com especificações exclusivas Screamin’ Eagle, foi talvez a melhor coisa que fizeram nesta unidade de imprensa que testei durante alguns dias pelas estradas nacionais de Portugal.

Realço este opcional pois a verdade é que, de “stock”, a Street Glide ST que vê neste teste tem pouco. A lista de extras nunca mais acaba, e alguns, como explico mais à frente, afetam positivamente a experiência de condução, enquanto outros são bastante dispensáveis.

Para muitas pessoas, e inclusivamente para motociclistas convictos, uma Harley-Davidson é igual a todas as outras.

De facto, não é fácil distinguir todos os modelos e variantes que a icónica marca americana coloca na estrada, pelo que a Street Glide ST podemos definir como sendo uma bagger turística carregada de estilo e muita performance vinda de um poderoso V-twin, o Milwaukee-Eight 117 (1923 cc). Uma evolução do conceito Street Glide que foi apresentado originalmente em 2006.

Falar em motor num teste a uma moto habitualmente leva-me a destacar também a sua performance. Números que não sendo extremamente relevantes para definir a experiência de condução de uma Harley, ajudam a perceber como é que uma moto tão pesada consegue ser agradável de conduzir, e até surpreender em determinados momentos. E por isso tenho mesmo de falar em potência e binário.

O V-twin americano de 1923 cc disponibiliza 103 cv às 5.450 rpm. Nada de muito impressionante. Mas não serão os cavalos a fazerem a diferença, mas sim os 168 Nm de binário atingidos às 3.500 rpm! Melhor que isso, logo às 2.000 rpm já uma grande percentagem desse binário máximo fica disponível para ajudar a movimentar a Street Glide ST com desenvoltura.

Não é necessário “espremer” o motor e as relações de caixa para sentirmos a potência a subir e o V-twin a inspirar litros e litros de oxigénio através da admissão cónica – mal posicionada porque fica precisamente no local onde a perna direita tem de estar. Não interessa a relação que escolhemos, e independentemente da velocidade a que circulamos, qualquer rodar de acelerador transforma-se numa aceleração poderosa.

É impressionante como a Harley-Davidson conseguiu criar um motor em que os pistões de 996 cc cada conseguem subir e descer no seu interior a ritmos tão elevados, para um motor desta arquitetura e cilindrada, sem que isso se traduza em vibrações exageradas. A suavidade na forma como a potência e binário são entregues é notável.

Suavidade essa que já não podemos dizer do funcionamento da caixa de velocidades.

A embraiagem até tem um acionamento leve na manete. Mas temos de ser decididos no momento de trocar de caixa. Não podemos ir com “carinhos”. É mesmo à bruta e sem medo de partir os componentes mecânicos!

Cada movimento no seletor é acompanhado por um ruidoso “clunk” enquanto as engrenagens procuram adaptar-se umas às outras. Delicadeza mecânica é um conceito que os engenheiros de Milwaukee ainda não conseguiram compreender. Estão melhores, concedo isso, principalmente comparando com as Harley de há uns anos. Mas ainda lhes falta muita suavidade nestas propostas mais turísticas.

As trocas de caixa são bastante rudes e até duras, o curso do seletor é demasiado longo e obriga a movimentar demasiado o pé, e encontrar o ponto-morto num semáforo é uma missão quase impossível.

Muitas vezes preferi deixar a primeira engrenada com embraiagem apertada do que estar a tentar encontrar o ponto-morto. Quando tive paciência, lá consegui encontrar o N no painel de instrumentos, mas apenas para isso acontecer milésimas de segundo antes do semáforo ficar verde e ter de arrancar. Se quiser olhar para isto do ponto de vista do “copo meio cheio”, posso dizer que ficamos entretidos enquanto esperamos pelo verde.

Tenho de atribuir parte das culpas desta situação ao kit de controlos que a Harley-Davidson instalou nesta Street Glide ST. O kit substitui as plataformas de série por poisa-pés avançados da coleção Dominion.

Uma escolha que claramente não favorece o acionamento da caixa, embora por outro lado garante uma posição para as pernas agradável, sendo que a distância livre ao solo em inclinação é interessante comparando com as habituais plataformas, que rapidamente estão a raspar no asfalto numa imagem gloriosa de faíscas a saltar por todos os lados.

Por falar em controlos, também os punhos são um extra. Os punhos Dominion, para além de uma aparência menos conseguida em termos de qualidade de construção, têm relevos que não são agradáveis ao toque, e são também demasiado grossos. Era um extra que podia perfeitamente ser trocado pelos punhos de série e não se perdia nada com isso. Bem pelo contrário.

Mas na verdade, quando um motociclista compra uma Harley-Davidson, pelo menos é essa a perceção que tenho, não a compra porque tem uma caixa de velocidades suave como manteiga quente.

Compra-a porque sabe que está a adquirir uma moto com a qual vai estabelecer uma relação mais profunda, quase ao nível das relações que temos com os nossos animais de estimação, que, mesmo sendo imperfeitos e causando os ocasionais estragos nas mobílias lá em casa, acabamos por adorar ter connosco e formamos com eles uma ligação especial para a vida.

No caso da Street Glide ST essa ligação especial não é formada de imediato. Os primeiros momentos, principalmente em cidade, a baixa velocidade, mostram uma moto com uma direção pesada e com dimensões pouco apropriadas para se movimentar por entre o trânsito urbano.

Felizmente, o assento a 710 mm de altura do solo, neste caso também um extra, o Drag Seat, que não convida a rolar com pendura, recebe o condutor de forma confortável, e o guiador fica em boa posição para adotarmos uma postura descontraída enquanto vamos desfrutando da música que emana das colunas posicionadas nos extremos do frontal Batwing, separadas por um conjunto de mostradores analógicos e um generoso ecrã TFT a cores, tátil, repleto de informações sobre a moto, mas também com um obrigatório GPS.

A qualidade sonora destas colunas é assinalável, e ajuda a entrar no espírito viajante da Street Glide ST. O infotainment Boom Box GTS encontrou nesta Street Glide ST uma boa “casa” onde viver.

Com o passar dos quilómetros vamo-nos habituando ao movimento do conjunto de curva em curva, sempre mantendo a atenção redobrada nas manobras a baixa velocidade. Com uma distância entre eixos de 1625 mm, esta Street Glide ST oferece estabilidade em linha reta a todas as velocidades, sendo que quando chegamos a uma estrada de curvas teremos sempre de tentar antecipar o que vai acontecer.

Não podemos chegar à curva e “atirar” os 369 kg para a trajetória. Menos ainda se tivermos uma curva para o outro lado logo a seguir, pois as trocas de inclinação em sequência de uma moto destas dimensões têm de ser realizadas com certeza do que estamos a fazer.

Ainda assim, e a partir do momento em que apanhamos o “jeito”, a Street Glide ST deixa-se levar com relativa facilidade, a frente revela perfeitamente quando estamos a exagerar e a chegar ao limite, enquanto os poisa-pés vão raspando de um lado e do outro, quase ao mesmo ritmo em que as ponteiras Screamin’ Eagle, com acabamento em preto mate, vão deixando escapar o som típico dos grandes V-twin de Milwaukee.

Curvar com estra Street Glide ST pode até tornar-se bem divertido. Toda a estrutura criada para suportar o massivo motor Milwaukee-Eight e todos os componentes da moto, revela uma rigidez torsional aceitável, mesmo em ritmos mais elevados.

Com os amortecedores Öhlins, totalmente ajustáveis, a gerirem a transferência de massas para a traseira em plena aceleração, mas também a revelarem uma excelente capacidade para gerir os ressaltos do asfalto tornando esta moto confortável, posso também destacar a eficácia da forquilha dianteira.

A forquilha Showa com tecnologia Dual Bending Valve e bainhas massivas de 49 mm, garante um apoio muito bom em travagem, e evita, na maior parte das vezes, que a frente se afunde quando travamos com mais força.

Isto permite, claro, travar mais tarde do que seria de supor. E no caso da Street Glide ST temos um conjunto de travões bem adaptados às necessidades de uma turística, mas que não se negam a enfrentar os desafios mais exigentes de uma estrada de curvas. O “feeling” na manete é bom e constante ao longo do curso, com a potência de travagem a estar bem distribuída.

O travão traseiro é usado com frequência para travar mais rapidamente, mas o posicionamento do pedal, devido ao kit de poisa-pés Dominion, acaba por não ser o ideal pois para o acionarmos temos de abrir a perna mais do que o suposto para contornar a admissão Heavy Breather que sai da lateral direita do motor.

E depois de tudo isto temos ainda ajudas eletrónicas à condução como o ABS “cornering” (a que se junta a função combinada de travagem), “cruise control” para as viagens em estradas mais abertas, controlo da pressão dos pneus, controlo de tração sensível à inclinação, ou ainda o “drag torque slip control” sensível à inclinação para ajudar a digerir as reduções de caixa mais agressivas evitando o bloqueio da roda traseira.

Tudo isto ajudas que podemos não “ver” em ação, mas que definitivamente ajudam a tornar a condução desta Street Glide ST numa experiência gratificante.

Extras que nunca mais acabam… e preço a aumentar!

Conforme referi inicialmente no lançamento deste teste, a unidade de imprensa que testei estava carregada de extras. De uma forma geral, bem conseguidos, embora, por exemplo, os amortecedores Öhlins com reservatório remoto fiquem posicionados demasiado à vista e salientes, inclusivamente das malas.

Nesta Street Glide ST a Harley-Davidson instalou os seguintes extras:

– Wind Shield Splitter ST 7’’

– Grooved Black Windshield Trim

– Proteções de forquilha Dominion, em dourado

– Drag Seat

– Ponteiras Screamin’ Eagle

– Terminais de ponteira de duas peças e 4,5 polegadas

– Friso de entrada de ar Vivid Black Splitstream

– Poisa-pés Dominion para condutor, em dourado

– Poisa-pés Dominion para passageiro, em dourado

– Seletor de caixa Dominion, em dourado

– Pedal de travão Dominion, em dourado

– Punhos Dominion, em dourado

– Amortecedores traseiros Screamin’ Eagles Öhlins, totalmente ajustáveis, com reservatório externo

– Farol traseiro escurecido

Embora não nos tenha sido possível, em tempo útil, obter os valores exatos do custo adicional destes extras instalados na Street Glide ST que aqui testámos, uma estimativa aponta para que esta lista de extras acrescente cerca de 4.500€ ao valor base da moto.

E por falar em preço, a Harley-Davidson tem três valores diferentes para este modelo: 36.000€ no caso da opção de cor Vivid Black, 36.600€ para outra cor como o Gunship Gray que vê nestas fotos, ou no caso de a opção recair sobre a possibilidade de cobrir esta moto a duas cores o preço passa para os 40.800€.

Galeria de fotos Harley-Davidson Street Glide ST

Neste teste utilizámos os seguintes equipamentos de proteção

Capacete – Schuberth C5

Blusão – REV’IT! Hoodie Stealth

Calças – REV’IT! Orlando H20

Luvas – Macna Attila RTX

Botas – TCX X-Blend WP

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