Moto Teste – Ducati Streetfighter V4 S, Supremacia tecnológica

Teste – Ducati Streetfighter V4 S, Supremacia tecnológica


A tecnologia e as diferentes opções e ajudas eletrónicas estão cada vez mais enraizadas no mundo das duas rodas. Arrisco dizer que qualquer moto moderna, praticamente de todos os segmentos e cilindradas, beneficia destes “packs” tecnológicos que servem para os mais diversos objetivos.

Foi por isso com enorme satisfação que, três anos depois de ter testado a primeira geração da supernaked de Borgo Panigale, recebi novamente a esbelta Ducati Streetfighter V4 S, agora evoluída para 2023 com uma série de refinamentos, principalmente ao nível da tecnologia, na minha garagem durante alguns dias para eu conseguir testar as suas renovadas capacidades dinâmicas.

Esteticamente, e como em receita que vence não se mexe, os designers da Ducati não operaram qualquer alteração à linguagem estilística que surpreendeu na primeira geração e que, inclusivamente, tornou a Streetfighter V4 S na moto “Mais Bela” do Salão de Milão EICMA. Um design agressivo, sublinhado por um pacote aerodinâmico derivado da Panigale V4 e do mundo da competição do MotoGP, com enormes asas biplano a pontificarem nas laterais dianteiras desta naked de alta performance.

DESTAQUES 
Preço: 26.895 €
Cilindrada: 1103 cc
Potência: 208 cv
Binário: 123 Nm
Peso a cheio: 197,5 kg

O motor Desmosedici Stradale V4 a 90 graus mantém-se inalterado mecanicamente, com a única novidade a ser a inclusão de mais sondas Lambda devido às imposições da homologação Euro 5. Isto significa que continuamos a usufruir de uma potência máxima alucinante, para padrões de naked, que atinge os 208 cv, sendo que a generosa curva de binário assinala uns bem saudáveis 123 Nm. Valores que posicionam a Streetfighter V4 S no espetro mais elevado da performance do segmento supernaked, e que, eventualmente, poderiam fazer com que conduzir este monstro fosse um suplício.

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Porém, a verdade é que o renovado pacote tecnológico foi trabalhado pelos engenheiros da Ducati de forma a tornar este monstro tão dócil quanto possível ou conforme desejamos que seja. Com uma entrega de potência algo agressiva a partir dos médios regimes, a Streetfighter V4 S não se importa de rolar a baixa velocidade, com o V4 a não se queixar em demasia. Porém, o que se nota é um acumular de temperatura, um problema crónico das Ducati, e que por mais proteções sejam aplicadas em volta dos coletores, a verdade é que as nossas pernas são assaltadas pela temperatura gerada pelos 208 cv.

Mas soltemos a Streetfighter V4 S das amarras dos limites de velocidade urbanos e a moto começa a revelar o seu caráter. Com uma agilidade a toda a prova, à qual se une agora uma maior estabilidade, fruto de um posicionamento do pivot do braço oscilante que aumentado em altura 4 mm em relação ao solo, o que ajuda a prevenir o baixar exagerado da traseira em aceleração à saída das curvas, uma alteração notada rapidamente é que a posição de condução beneficia imenso do novo depósito.

Mais arredondado, permite agora apoiar mais facilmente as pernas nos momentos de travagem, mas também em apoio em inclinação. Torna-se, a este nível, menos exigente em termos físicos levar a Streetfighter V4 S aos limites.

A nova calibração da eletrónica deriva da mais recente geração da Panigale V4 S. Isto significa que para cada relação de caixa existe uma parametrização específica do binário disponibilizado. A limitação de binário é mais forte nas primeiras relações do que nas últimas, pelo que gradualmente temos à disposição do punho direito maior percentagem dos 123 Nm de binário. É uma alteração bem-vinda e bem conseguida, tornando o Desmosedici Stradale menos violento a baixas rotações, logo, menos exigente, mas igualmente poderoso quando a velocidade aumenta.

Convém, no entanto, recordar que em modo de potência Full, o limite de binário é quase inexistente, pelo que a Streetfighter V4 S consegue exprimir-se na sua plenitude quando selecionamos este modo de potência. E selecionar as muitas opções eletrónicas é tarefa fácil, pois no novo painel de instrumentos TFT de 5’’ as muitas informações são apresentadas de forma legível e intuitiva, com grafismos que ajudam a perceber o que estamos a alterar.

É uma supernaked digital, tudo foi construído em torno das ajudas eletrónicas. E isto inclui os modos de condução, personalizáveis, o anti-wheelie, controlo de tração, controlo do deslizar lateral da roda traseira, “launch control”, modos de potência, e até a intervenção do amortecedor de direção eletrónico para gerir os movimentos exagerados da direção, fator crucial para manter a estabilidade do conjunto a velocidades mais elevadas.

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E enquanto percorro muitos quilómetros rapidamente, mas também de forma confortável, graças ao assento bem acolchoado com nada menos do que 60 mm de esponja (Panigale tem 30 mm e Multistrada 70 mm), redescubro a capacidade incrível das suspensões eletrónicas Öhlins em ler as imperfeições do asfalto e adaptarem-se às condições de condução. Oferecem um excelente apoio em travagem, mas também uma capacidade de manter o conjunto equilibrado em plena aceleração, garantindo que o massivo pneu traseiro Pirelli Diablo Rosso IV Corsa se agarra ao asfalto e empurra os 197,5 kg para velocidades bem acima dos limites do Código da Estrada.

E apesar de não ser uma moto desconfortável, a Ducati Streetfighter V4 S é, ainda assim, uma moto exigente do ponto de vista físico para percorrer grandes distâncias. A falta de proteção aerodinâmica é notória, pelo que aconselho a evitar autoestradas sempre que possível. Estradas de montanha são as ideais, até porque a diversão está nas curvas!

E foi nesse ambiente que descobri mais uma das novidades incluídas nesta segunda geração. Também aproveitando o que foi feito para a superdesportiva Panigale V4, a Ducati redesenhou o sistema quickshift. Se é verdade que a alta velocidade em pura aceleração as trocas de caixa nunca foram um problema, também não deixa de ser verdade que tanto subir como descer de relações a baixa velocidade não era a experiência mais agradável.

Adotando a parametrização da Panigale, a nova Streetfighter V4 S apresenta um quickshift perfeito a baixas rotações. Já não somos brindados com um movimento demasiado mecânico e pronunciado. Basta um leve toque no seletor e a relação seguinte é imediatamente engrenada suavemente, exponenciando as sensações de que estamos perante uma moto de competição para a estrada.

Esta nova Ducati Streetfighter V4 S está mais tecnológica. Está, como refiro no título deste artigo, um verdadeiro monstro que exibe a supremacia da tecnologia. Do ponto de vista mecânico e de ciclística mantém as suas (boas) características, e os parâmetros eletrónicos redefinidos tornam-na mais utilizável pelo motociclista comum.

Se for um condutor do calibre de um piloto profissional, conseguirá extrair desta supernaked o que de melhor ela tem para dar. Mas se for um motociclista que apenas quer ter o melhor que o segmento tem para dar, então a garantia é de que vai passar muitos momentos de diversão aos comandos da Streetfighter V4 S. Mas vai ter de se aplicar para conseguir dela aquilo que deseja.

Texto: Bruno Gomes
Fotos: Pedro Lopes

EQUIPAMENTO USADO NAS IMAGENS
Capacete – Nexx X.R3R
Fato – Dainese Misano 2 D-air
Luvas – REV’IT! Jerez Pro 3
Botas – Dainese Axial D1

FICHA TÉCNICA

PREÇO: 26.895
MOTOR: Quatro cilindros em V, 4T, refrigeração por líquido
DISTRIBUIÇÃO: Desmodrómica, 4 válvulas p/ cilindro
DIÂMETRO X CURSO: 81 x 53,5 mm
CILINDRADA: 1103 cc
POTÊNCIA MÁXIMA: 208 cv @ 13.000 rpm
BINÁRIO MÁXIMO: 123 Nm @ 9.500 rpm
EMBRAIAGEM: Multidisco em banho de óleo, assistida e deslizante
CAIXA: 6 velocidades
TRANSMISSÃO FINAL: Por corrente
QUADRO: Tipo Front Frame, em alumínio
SUSPENSÃO DIANTEIRA: Forquilha Öhlins NIX30 com bainhas de 43 mm, controlo eletrónico Smart EC 2.0, totalmente ajustável, curso de 120 mm
SUSPENSÃO TRASEIRA: Monoamortecedor Öhlins, controlo eletrónico Smart EC 2.0, totalmente ajustável, curso de 130 mm
TRAVÃO DIANTEIRO: Dois discos de 330 mm, pinças Brembo Stylema de 4 pistões, ABS Cornering Evo
TRAVÃO TRASEIRO: Disco de 245 mm, pinça de 2 pistões, ABS Cornering Evo
PNEU DIANTEIRO: 120/70-17’’
PNEU TRASEIRO: 200/60-17’’
COMPRIMENTO MÁXIMO: n.d.
LARGURA MÁXIMA: n.d.
ALTURA DO ASSENTO: 845 mm
DISTÂNCIA ENTRE EIXOS: 1.488 mm
ÂNGULO DA COLUNA DE DIREÇÃO / TRAIL: 24,5º / 100 mm
CAPACIDADE DO DEPÓSITO: 17 litros
PESO A CHEIO: 197,5 kg
CORES: Ducati Red, Volcano Grey
GARANTIA: 4 anos
IMPORTADOR: Desmotron

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