Não há como contornar. A Honda XL 750 Transalp é uma trail da forma mais correta, uma verdadeira moto de aventura polivalente capaz de nos levar longe, a quase todo o lado e por muitos quilómetros seguidos. É uma moto que não cansa e que não se detém perante obstáculos. Está no mercado desde 1986 e, ao longo destes quase quarenta anos, pouco mudou na sua essência.
É uma moto feita para andar em qualquer tipo de estradas, pelos mais variados tipos de piso. Se no passado era uma moto relativamente modesta em prestações, com o novo motor bicilíndrico paralelo com mais de 90 cv, é muito eficiente e divertida de conduzir.
Col de la Bonette, fronteira Italo-francesa a 2.802 m
Passámos três dias na zona dos Alpes Marítimos, partindo de Nice, em França, e percorremos cerca de 700 quilómetros pelas mais fantásticas e diversificadas estradas de montanha, numa região que serviu de terreno para o desenvolvimento deste modelo nos idos anos 80. Fazendo jus ao seu nome, transpusemos várias passagens de montanha alpinas, passando por locais icónicos como o Col de La Bonette, onde a Honda Transalp esteve na apresentação do modelo original e, mais tarde, na apresentação do modelo de 2008.
A estes juntaram-se o Col de la Fauniera, já em Itália, com a estátua do ciclista italiano Marco Pantani, que construiu parte da sua lendária carreira nestas montanhas, o Col de Turini, palco do Rally de Monte Carlo, e muitos outros que ao longo dos 3 dias perfizeram quase uma dezena de cumes.
Dados da Viagem:
Distância: 702 km
Combustível: 30,7 litros
Média: 4,37 lt/100 km
Tempo decorrido: 14 horas
Locais:
1º dia: 240 km – França
-Madonne d’Utelle – 1.140 m
-Col de la Bonette – 2.802 m
-Col de Restefond – 2.678 m
-Col D’Allos – 2.250 m
2º dia: 285 km – França – Itália – França
-Col de Vars – 2.108 m
-Col Agnel (fronteira)- 2.744 m
-Colle di Sampeyre – 2.284 m
-Colle Fauniera – 2.481 m
-Colle de la Lombarda (fronteira)- 2.350 m
3º dia: 177 km
-La Bollène – Vésubie
-Col du Turini – 1.607 m
Rodámos maioritariamente em altitude, acima dos 1000 metros, com os pontos mais elevados a chegar aos 2800 m do Col de la Bonette, situação que ajuda a acumular cansaço. A Honda XL 750 Transalp, com a sua facilidade de condução, eficiência e conforto, esteve sempre à altura de nos suportar ao longo das muitas horas que passámos ao seu guiador.
Entre os quilómetros que fizemos e o muito tempo dispendido a criar conteúdos, como estas fotografias e os vídeos que reproduzimos no Youtube e nas nossas redes sociais, o tempo de estrada não acrescentou cansaço desnecessário. Foram jornadas longas, iniciando ao nascer do sol e chegando ao destino já de noite cerrada.
Para longe da civilização
A viagem começou em Nice, e saindo da cidade em plena hora de ponta, com muito trânsito, ficaram logo evidentes as qualidades urbanas da Transalp. Começa pelo assento, baixo para os padrões de uma trail, e com um desenho que facilita colocarmos bem os pés no chão, facilitando as manobras a baixa velocidade, o arranque e a paragem. A posição de condução “é alta”, dando-nos uma boa visão sobre o que se passa à nossa volta.
O guiador é largo “qb”, não complicando demasiado entre as filas de automóveis, mas permitindo um bom efeito de alavanca que torna a direção leve e descontraída. Mesmo estando um dia bastante quente, não senti que o motor emitisse demasiado calor que nos incomodasse na utilização a baixa velocidade.
A embraiagem, com um sistema de assistência, é muito leve e progressiva de utilizar, mantendo a “frescura” muscular no punho esquerdo mesmo ao fim de algum tempo de para-arranca. Falando de embraiagem, muitos têm feito a pergunta, e nós também a temos colocado aos responsáveis da Honda com quem nos vamos cruzando: para quando uma Honda XL 750 Transalp com DCT? A resposta não é 100% fechada, mas na concepção da base deste motor, com foco em determinadas características mais utilitárias e de custos controlados, o DCT parece não ter sido equacionado.
Assim, essa opção não deverá ser apresentada a breve prazo. Outros elementos como cruise control, vidro regulável em altura ou suspensões com mais afinação poderão aparecer numa futura renovação do modelo. Com o quick-shifter, opcional, que tínhamos montado na unidade que usamos nesta viagem, além dos troços de cidade “mais trabalhosos”, a verdade é que a caixa se mostrou sempre um prazer de utilizar. Nos primeiros quilómetros desta aventura, as únicas retas dignas de tal nome e vias rápidas destes 3 dias de estrada.
Nelas pudemos apreciar a excelente postura de condução da Honda XL 750 Transalp em velocidade mais constante, com uma proteção aerodinâmica que cumpre muito bem. Contudo, para a minha estatura, tem o defeito de colocar alguma turbulência exatamente na zona da pala do capacete. Uns centímetros abaixo ou acima resolveriam o problema, razão pela qual seria bem-vinda uma regulação em altura deste elemento.
Grupo de jornalista Ibéricos no Col de La Bonette
A primeira paragem foi junto ao santuário de Madone d’Utelle, depois de uma primeira escalada de montanha até aos 1140 m, uma pequena amostra do que teríamos daqui para a frente. Mais uma centena de quilómetros e chegaríamos a um dos pontos mais altos destes três dias, o Col de la Bonette. Este ponto é icónico para o modelo, já que foi usado na apresentação do modelo original dos anos 80 e voltou a ter a mesma serventia para o modelo de 2008, estando as suas coordenadas inscritas na decoração das carenagens da moto dessa altura.
Jornada franco-italiana
O segundo dia foi passado entre passagens transfronteiriças na linha de serra que separa França da Itália. Muito mais curvas e diferentes tipos de piso. Esse é um dos grandes atrativos desta região, a variedade de percursos possíveis, e que tão bem combina com a capacidade de adaptação da Honda XL 750 Transalp. No campo da eletrónica, esta moto está muito bem equipada com várias ajudas que podem ser adaptadas às condições em que circulamos.
Controlo de tração, ABS, anti-cavalo, travão motor, nível de potência e resposta ao acelerador, tudo pode ser alterado. De base existem quatro modos pré-definidos, Sport, Standard, Rain e Gravel, que abrangem bem todas as necessidades deste modelo, mas podemos ir mais longe com o modo User, que permite criar o perfil próprio e inclusive desligar as ajudas como o controlo de tração ou o ABS da roda traseira.
Leia também – Honda celebra 10 anos de DCT
Fomos navegando por estas possibilidades consoante o tipo de piso que encontrávamos, que variou de asfalto de excelente qualidade a estradas com crateras pronunciadas, ausência de asfalto, gravilha solta. Junto com a boa ciclística, jantes de grande diâmetro e suspensões macias, a Transalp evolui sem causar qualquer calafrio, libertando-nos a atenção para apreciar o que nos rodeia.
Colle dell Agnello ou Col Agnel, fronteira Italo-francesa a 2.802 m
O Col Agnel ou Colle de L’Agnello, dependendo do lado onde estamos, liga França a Itália, sendo a nossa porta de entrada para o lado de Piemonte, que a 2744 m de altura é o quarto ponto mais alto dos Alpes. Para aqui chegar e sair, a estrada é revirada, mas aberta, permitindo tirar partido da excelente estabilidade da Honda XL 750 Transalp, gozando das curvas rápidas com a confiança de explorar a aderência dos Metzeller Karoo Street até que os “avisadores” dos pousa-pés cumpram a sua função.
A Honda Transalp parece ter jantes de muito menor diâmetro, tal a facilidade com que se deixa levar entre curvas, com mudanças de direção rápidas. Junto com um motor que tem sede de rotações, quem gosta de uma condução rápida em estrada não se irá sentir defraudado em situação nenhuma. As suspensões cumprem bem a sua função sem serem demasiado firmes nem excessivamente macias, embora pudessem ter regulação hidráulica para melhor adaptabilidade.
Foto de grupo tirada ao pé da estatua homenagem ao ciclista Marco Pantani
O final da tarde, já muitos quilómetros a sul, foi passado a subir ao Colle Fauniera, marcado pelo cicloturismo, com estradas muito fechadas entre vegetação alta, muitas raízes e falta de asfalto, momento em que as suspensões longas e as jantes de 21 e 18 polegadas fazem todo o sentido.
De regresso a “casa”
Depois de uma “especial” noturna que nos levou até Auron, já de volta a França e onde apreciei as vantagens de usar as luzes suplementares opcionais da Honda, o terceiro dia levou-nos até ao Col Turini.
Eternizado pelas imagens dos troços noturnos do Rali de Monte Carlo, a conhecida noite das facas longas, referindo-se ao reflexo dos faróis de longo alcance dos carros de competição contra o branco da neve, que cortavam o breu da noite enquanto se aventuravam serra adentro, aqui respira-se a paixão pelos motores.
A unidade bicilíndrica que anima a Transalp enquadra-se bem neste espírito, sempre pronta a ganhar rotação, com respostas soltas e pungentes nos regimes médios e altos. A sonoridade é contagiante, muito diferente do que esperaríamos numa trail, em especial da Honda, que está sempre conotada, de forma pouco justa, com motores insonos.
O bicilíndrico paralelo aqui usado é pleno de carácter e garante fortes doses de prazer sempre que dele se pede mais prestações. É equilibrado a baixas rotações e, assim que passa as 4500 rpm, ganha um fôlego diferente, intenso, que cresce com o aumento das rotações, com um som de admissão e escape que nos envolve e pede para continuar com a diversão.
Na prática, a Honda XL 750 Transalp é uma trail de média cilindrada que oferece uma excepcional capacidade de rolar em estrada, fazer grande quantidade de quilómetros com conforto, e poder continuar a rolar da mesma forma fora de estrada.
Não é a moto certa para quem procura algo para rolar de forma rápida e dura fora de estrada. Para isso, existem modelos de outras marcas. No fim de 3 dias de estrada e 700 km, pouco mudaríamos neste modelo, salvo a possibilidade de regulação em altura do vidro da carenagem frontal, adoção de um sistema de cruise control e a possibilidade de afinação mais extensa das suspensões. A Transalp é uma trail polivalente por excelência.
Acessórios
Pack Adventure: grelha para radiador, barra de proteção, faróis de nevoeiro, fixação para faróis de nevoeiro.
701 €
Pack Comfort: saco de depósito 3 L, defletores para carenagens, defletor para para-brisas, poisa-pés comfort para passageiro, ficha de corrente para acessórios.
264 €
Pack Rally: proteção de cárter, proteção de motor, fixação para proteções, quickshifter, proteções de punhos, extensões para proteções de punhos Tricolor, poisa-pés Rally.
1009 €
Pack Touring: malas laterais (Dto: 26 lt, Esq: 33 lt), bolsas interiores para malas laterais, suporte de montagem para malas laterais, canhão interior para sistema de chave x2, punhos aquecidos.
1173 €
Pack Urban: top case de 50 L com encosto, canhão interior para sistema de chave, base para top case, bolsa interior, para-brisas alto, descanso central.
854 €
Fique atento a www.motojornal.pt para estar sempre a para de todas as novidades do mundo do desporto em duas rodas. A não perder!
O conteúdo Viagem – 3 dias nos Alpes com Honda XL 750 Transalp aparece primeiro em MOTOJORNAL.