A histórica marca Moto Morini ganhou nova vida quando, em outubro de 2018, foi adquirida pelo Zhongneng Vehicle Group. Por cá, a Moto Morini está também a ser relançada, ao contar com um novo importador para Portugal desde o início de junho deste ano, a Puretech. A seu convite percorremos o Douro desde Matosinhos até ao Pinhão, tempo que usamos para ficar a conhecer melhor a história da marca, os novos modelos e como a Puretech tenciona dinamizar a Moto Morini no mercado português.
Tal como muitas outras marcas italianas, a Moto Morini tem uma rica e atribulada história. Alfonso Morini era um apaixonado pela velocidade e, em 1924, então com 26 anos, fundou, com Mario Mazzetti, a M.M.. Com uma destas motos, estabeleceu em 1927 seis recordes de velocidade no circuito de Monza. Mais tarde, acabaria por afastar-se de Mazzetti e, em 1937, fundou a sua própria marca, a Moto Morini, com sede em Bolonha. Começou por fazer ‘tricarros’, ou seja, triciclos de carga, mais baratos que as pequenas camionetas, menos impostos e carecendo de carta de condução.
Com o estalar da II Guerra Mundial, foi forçado a converter a sua fábrica para produzir material bélico, o que só terminou quando a fábrica foi arrasada num bombardeamento em 1943. Assim que a guerra terminou, voltou à atividade motociclística, com uma nova fábrica em Bolonha, e em 1946 lançou o seu primeiro modelo pós-guerra, a T125 a dois tempos, muito bem-sucedida e que permitiu o lançamento de novos modelos. Tendo em conta a paixão pela velocidade e competição, rapidamente levou as suas motos para as pistas, com o piloto Raffaele Alberti a conseguir o primeiro título italiano com a Moto Morini Competizione logo em 1948. Depois, viria mesmo a conquistar duas vitórias nos grandes prémios das Nações e de Espanha de 1952 com essa 125 a quatro tempos que chegava às 10 000 rpm.
Em 1963, foi a principal rival da Honda na luta pelo título de 250 cc, quando Tarquinio Provini se sagrou vice-campeão mundial da categoria aos comandos da Bialbero 250, dois pontos atrás do rodesiano Jim Redman. Os modelos de produção tinham motores de 125 e 175 cc, e a experiência na competição foi transferida para os modelos de produção, dando origem à Corsaro 125. Com as vendas a todo vapor, a marca expandiu-se para os EUA em meados dos anos 60, ao mesmo tempo que continuava envolvida na competição, conquistando títulos italianos de velocidade e expandindo-se para o enduro.
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Nos anos 70, chegou Franco Lambertini, proveniente da Ferrari, que contribuiu para o surgimento de motores de maior cilindrada, como o V2 de 350 cc, com quatro válvulas por cilindro (com distribuição por correia, algo que ainda não tinha sido feito num motor de moto), embraiagem a seco e uma potência específica de 100 cv/litro. Este motor, apresentado no Salão de Milão de 1971, equiparia um dos maiores sucessos da Moto Morini, a 3½; outra foi a trail Kanguro, que o Motojornal conhece bem, pois foi a nossa moto de serviço no final dos anos 80 e nos primeiros anos da década de 90.
Em 1987, a Moto Morini passou para as mãos dos irmãos Castiglioni, integrando o universo Cagiva. Foi lançada em 1988 a Dart, uma desportiva de 125 cc com a ciclística da Cagiva Freccia e motor Moto Morini, e foram projetados novos motores de 350, 500 e 750 cc. Com o pouco sucesso dos novos modelos, a Cagiva perdeu o interesse na marca e a produção terminou em 1996.
Foi vendida com o ‘pacote’ Ducati à Texas Pacific Group logo depois, e em 1999 a Moto Morini regressava à família original. Mas só em 2004 começam a surgir os novos modelos, depois do regresso de Franco Lambertini, que em 1989 tinha saído para a Piaggio. Ao longo dos anos seguintes, com a liderança de Maurizio Morini, e com um novo V2 1200, surgem vários modelos, como a Scrambler, a Corsaro, a Granpasso e a 9½.
Já no início de uma crise financeira, foi concebida a Granferro, uma supermoto que era praticamente um híbrido entre a Corsaro e Granpasso, apresentada no Salão de Milão de 2009, mas não chegou a ver a luz do dia, pois a Moto Morini entraria em insolvência em maio de 2010. No interesse dos credores, a empresa manteve-se ativa até ao final do ano para montar motos com o stock de componentes existentes.
Depois de não ter havido qualquer interessado numa primeira hasta pública, a empresa foi vendida à segunda tentativa, passando para as mãos de Sandro Capotosti, um banqueiro, e Ruggeromassimo Jannuzzelli, ex-CEO da Camuzzi, uma empresa de capital de risco e investimentos, em 2011. A produção recomeçou com uma edição limitada da Rebello 1200 Giubileo, uma reinterpretação do modelo original de 1956 e que celebrava os 75 anos da marca, e vendida exclusivamente online. Depois retomou a produção das Corsaro, Granpasso e Scrambler. Em 2015, a família Jannuzzelli assumiu o controlo total da empresa, e foram sendo lançadas novas versões da Corsaro, algumas das quais de série muito limitada, e só em 2017 surge um modelo totalmente novo, a Milano.
Em 2018 a Moto Morini voltou a ter um novo proprietário, tendo sido adquirida pelo Zhongneng Vehicle Group. Continuaram a produzir versões da Corsaro e Scrambler e em 2019, no Salão de Milão, surgem os novos modelos, com um novo motor bicilíndrico de 650 cc, a Seiemmezzo e a X-Cape. Quando estes entraram em produção em 2021, foram descontinuados os modelos de 1200 cc e a Moto Morini entrou numa nova era.
Nova era em Portugal
E é nesta nova era, com estes dois modelos bem interessantes – e com vários outros na calha – que em Portugal a histórica marca italiana passa a ter um novo importador, a Puretech. A empresa liderada por Joaquim Cidade é a nova responsável pela distribuição da marca em território português. A Puretech convidou os jornalistas para conhecer os atuais modelos, organizando uma pequena viagem de cerca de 300 km que nos levou de Matosinhos, onde está a sede da empresa, até ao Pinhão, percorrendo as margens do Douro.
Sem ser uma apresentação formal dos modelos, pois não houve sequer sessões de fotos em andamento, este passeio serviu para conhecer a gama atual, composta pela X-Cape e pela Seiemmezzo. Apesar do calor tórrido, que mais convidava a andar de moto de água no convidativo Douro do que de motos de duas rodas, não só redescobrimos a X-Cape que conhecemos em Itália aquando da sua apresentação à imprensa no final de 2021 (Motojornal n.º 1520), como descobrimos a Seiemmezzo (ou 6½, para manter a tradição da marca), nas versões Street e Scrambler. Ambos os modelos usam o mesmo motor de dois cilindros paralelos, com 649 cc que oferece 60 cv de potência máxima.
Joaquim Cidade com as Moto Morini X-Cape e 6 1/2 SCR
A X-Cape é uma trail para todo o serviço e mostrou-se uma excelente viajante. Confortável, com proteção aerodinâmica q.b., possui um vidro regulável manualmente em altura. Conta também com um TFT a cores de 7 polegadas com conexão ao telefone e dupla tomada USB. Por culpa da elevada temperatura, capaz de derreter as pedras da calçada – algo que quase nos distraía dos atributos da X-Cape – foi o calor emanado do motor, que nos cozinhava as pernas em lume brando.
Contudo, esses dias eram excecionalmente quentes, acima dos 40°C; em condições normais, isso não será um problema. Além disso, a Moto Morini oferece um acessório que ajuda a defletir esse calor das pernas; uma das motos estava equipada com esse acessório, e a diferença é notória. Não possui modos de condução, mas o ABS pode ser desligado na roda traseira para a condução fora de estrada.
O motor é linear e disponível a qualquer regime, o que faz da X-Cape uma boa estradista, com uma ciclística a condizer, permitindo devorar as curvas das margens do Douro, incluindo as da N222, considerada em 2015 a ‘World Best Driving Road’ num estudo da Avis Rent a Car, com grande à-vontade.
Apesar de usar a mesma base técnica da X-Cape, a 6½ é bem diferente. Disponível em duas versões, a STR (de Street) e a SCR (de Scrambler) usam o mesmo motor e quadro da trail, mas com suspensões diferentes – forquilha de menor diâmetro (Ø43 mm em vez de Ø50 mm) e de menor curso, e roda dianteira de 18 polegadas em vez da de 19 da trail.
Gostámos especialmente da SCR, simplesmente por causa da posição de condução proporcionada por um guiador ligeiramente mais alto e largo que o da STR, e que resulta perfeito na combinação de conforto e controlo total; e mesmo com os menos estradistas Pirelli MT60RS (em jantes de raios, enquanto que a STR usa Pirelli Angel GT com jantes de alumínio), revelou ser uma moto muito, mas mesmo muito divertida nas sinuosas estradas do Douro.
Eficazes, simples e divertidas, as Moto Morini têm outro argumento a seu favor, o preço que não chega aos 8000 €. Apenas a versão Gold ADV da X-Cape, com jantes raiadas com aros dourados, supera esse valor. E isto é apenas o início, porque na calha estão novos modelos com novas motorizações: 750, 925 e 1200 cc (podendo vir a existir também uma gama de 300 cc).
A Puretech Moto está a trabalhar na sua rede de distribuição e tem prevista a presença em vários eventos para dar a conhecer as Moto Morini. Já esteve no Traveler’s Event, e vai estar no Portugal de Lés-a-Lés Off Road. Se estiverem pela zona norte do país podem ver as Moto Morini na sede da Puretech (Rua de Brito Capelo, nº 311, 4450-073 Matosinhos – puretech.pt) ou online em motomorini.eu.
Preço de venda ao público
Seiemmezzo STR: 7390 €
Seiemmezzo SCR: 7590 €
X-Cape (alumínio): 7490 €
X-Cape (raios black): 7890 €
X-Cape (raios Gold ADV): 7890 €
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