Moto Um curso de condução com o Racing School AIA em modo “low cost”

Um curso de condução com o Racing School AIA em modo “low cost”


Andar de moto em circuito, pelo menos para mim, é das melhores coisas que há no mundo das duas rodas. Porque consigo andar nos locais onde os meus ídolos da competição conquistaram as suas vitórias, mas, principalmente, porque consigo ir aos meus limites e procurar aumentar as minhas capacidades enquanto motociclista de controlo da minha moto. Ainda mais se o puder fazer num local especial como o Autódromo Internacional do Algarve e com os seus cursos Racing School AIA.

Quando a meio da primeira década deste milénio (ou século) assisti ao crescente interesse dos motociclistas portugueses pelos track days e cursos de condução avançada, percebi que não estava sozinho nesta “missão”.

Muitos são os motociclistas que deixaram de acelerar na estrada para acelerar ainda mais nos circuitos, e mesmo os mais inexperientes ou recém-encartados têm vindo a aumentar em número nas boxes dos nossos circuitos.

Porém, a facilidade com que se vai para a pista num track day acaba por estar a ser “estragada” pela ideia de que apenas alguém com muitos milhares de euros na conta e acompanhado por uma equipa de mecânicos profissionais consegue andar e divertir-se em pista.

Uma visita a um circuito num dia de track day reforça esta ideia.

Qualquer box está ocupada por “rookies” em pista que mais parecem saídos de uma equipa de MotoGP: mantas para aquecer pneus slick cuja pressão é medida de minuto a minuto e ajustada em 0,00001 psi, motos com carenagens de pista, atrelados fechados que escondem um (ou mais!) carrinhos de ferramentas de fazer inveja a qualquer oficina especializada, e um batalhão de mecânicos que ajustam a eletrónica e aerodinâmica das motos…

Enfim, hoje em dia qualquer estreante nestas andanças parece mais um profissional do que um amador que se quer divertir em pista.

E ainda que eu seja apologista de que todos devem usar aquilo que podem comprar, e, normalmente, melhores equipamentos, principalmente os de proteção do nosso corpo, custam mais euros, tudo isto pode ser algo desmotivante para quem nunca passou por “isto” de andar em pista e pensava que apenas bastava pagar a inscrição e entrar em pista para se divertir ou aprender.

Para contestar um pouco esta ideia de que para andar em pista temos de ser milionários, e sabendo que os euros custam a ganhar, decidi fazer-me à estrada com destino ao Autódromo Internacional do Algarve (AIA) para participar, a convite da Racing School local, no seu Curso de Moto.

O conceito desta viagem de um único dia foi: um motociclista, uma moto, uma mochila. Nada mais do que isto!

Será possível (e agradável) participar num curso de moto em pista completamente sozinho, sempre de moto e só com a mochila às costas?

MOCHILA ÀS COSTAS E LÁ VOU EU!

Eram 6H24m da manhã quando arranquei de casa rumo ao AIA. Como estava em modo “low cost”, optei por fazer tudo num dia só, evitando pagar uma estadia no Algarve em pleno verão.

Isto obrigou madrugar e aproveitar o fresco matinal para me fazer à estrada, com a Yamaha R7 a parecer-me um sofá comparativamente às motos mais desportivas que dormem na minha garagem.

Por causa dos horários definidos pela Racing School para o curso de moto, não consegui fazer a viagem rumo ao Sul por estrada nacional. Para garantir a minha presença no briefing no AIA e assim obter autorização para participar no curso, fui obrigado a seguir sempre por autoestrada, pagando as “portagens de luxo” da A2.

A viagem para baixo demorou pouco mais de 3H30m, cumprindo os limites de velocidade e com a R7 sempre a revelar-se uma boa companheira de viagem. Foram mais de 320 km percorridos, duas paragens para abastecer e descansar, a última das quais já na A22 / Via do Infante a poucos quilómetros do circuito, para garantir que tinha gasolina suficiente para os consumos mais elevados em pista.

Ocupei o meu lugar na box 6 do AIA, lado a lado com outras grandes máquinas.

A maioria eram superdesportivas do mais alto calibre, mas a minha Yamaha R7 não parecia atemorizar-se. Pelo menos não o mostrou tanto como eu quando, ao contrário dos meus companheiros de box com carrinhos de ferramentas e motos nos cavaletes a aquecer os pneus slick, apenas saquei da mochila uma garrafa de água e um reforço energético, um par de chinelos, uns calções e uma t-shirt.

O meu espaço na box era mínimo, mas também não precisava de muito.

REDEFINIR LIMITES NO CURSO DO AIA

O curso de moto da Racing School AIA, com Miguel Praia, antigo piloto do Mundial Supersport, como líder do grupo de instrutores, é um evento de créditos reconhecidos. Até eu que tenho alguns anos de experiência nestas andanças sou obrigado a reconhecer a capacidade desta escola de condução avançada em levar os menos experientes a melhorarem as suas capacidades.

E os mais experientes também não dão o seu tempo por perdido!

Composto por componentes técnicas, teóricas e práticas, este curso de moto do AIA está cada vez mais refinado e com novidades – pelo menos para mim – bem interessantes e que ajudam certamente a evoluir mais rapidamente em pista.

Por exemplo, e depois do obrigatório briefing matinal na box exclusiva da Racing School AIA, os alunos, cerca de 20, são levados até ao kartódromo onde aquecem os músculos nas pit-bike.

Com ajuda de auriculares para uma comunicação “live” entre instrutor e aluno, este é o momento em que os iniciados percebem a dinâmica de conduzir em pista, mas sem correr riscos demasiadamente desnecessários.

Para os mais experientes a experiência de pilotar uma pit-bike, rígida e extremamente pequena, mostra-nos que é necessário ser muito mais suave em tudo o que fazemos em cima da moto para sermos mais rápidos. Mas, claro, o nosso foco está nas sessões no traçado mundialista.

A “montanha russa” algarvia, ondulante e onde venceram os grandes campeões, é o cenário para diversas sessões de grupo. Este é um traçado que esconde muitos segredos, bastante técnico e exigente do ponto de vista físico.

Os instrutores acompanham sempre os seus alunos, que os seguem (ou tentam seguir) como uma sombra, replicando trajetórias, pontos de travagem e forma de posicionar o seu corpo em cima da moto.

Andar de moto em pista é um exercício de repetição. Quantas mais voltas fazemos, mais evoluímos. Mas se tivermos a ajuda dos instrutores da Racing School AIA, tudo se torna mais fácil.

Para além das sessões em pista, e onde a minha Yamaha R7 de estrada não se deixou ficar muito para trás de motos com mais de 200 cv que integraram o meu grupo de alunos e da YZF-R6 do instrutor Miguel Praia, o que não deixou de surpreender aqueles que estavam presentes neste evento, este curso de moto do AIA incluiu, já depois de um retemperador almoço onde dei uso à roupa e chinelos que levei na mochila, diferentes sessões teóricas para correção da postura do corpo, e também um pequeno, mas valioso, exercício de travagem realizado no paddock do circuito onde os alunos sentem qual é o limite da travagem da sua moto.

Mas o dia não terminaria sem mais sessões em pista.

Já com algum cansaço acumulado, a sessão de vídeo (que é analisado em detalhe posteriormente) leva os alunos a pilotarem a moto na posição de líder do grupo. O monitor troca de posição com o aluno, ficando agora atrás, e analisa o comportamento do aluno em pista, corrigindo depois com dicas úteis.

É, provavelmente, o momento mais stressante para os alunos, mesmo os mais experientes, pois a partir daqui deixamos de ter qualquer referência para seguir.

A sessão livre no final é mais um momento de descontrair, mas relevante para percebermos a nossa evolução ao fim de um dia de curso de moto da Racing School AIA. É algo que aconselho todos os motociclistas a fazer, até pelo espírito de entreajuda e partilha de experiências (e dúvidas) que são potenciadas pela equipa do Miguel Praia.

CANSADO, MAS FELIZ!

Finalizada a ação em pista, hora de arranque rumo a casa. A Yamaha R7 foi reabastecida logo na Via do Infante, e depois na A2 tive de parar por mais uma vez para atestar. Fora isso, mantive-me em cima da moto sem parar. Talvez este tenha sido o momento mais complicado de toda esta aventura.

Enquanto me recordava dos meus companheiros de curso que faziam a viagem de regresso sentados nos seus automóveis, confortáveis, com as motos guardadas nos atrelados, eu estava já em modo de sobrevivência.

Algumas dores nas pernas, o assento da R7 já não parecia ser tão confortável como quando tinha arrancado na madrugada, e assim que a noite caiu por completo sobre a A2, o cansaço “bateu” com força e já só desejava chegar a casa o mais rápido possível.

Os últimos 100 km de viagem pareceram uma eternidade. Já não tinha posição para me sentar, as botas de pista já me faziam doer os pés ao fim de mais de 15 horas calçadas, e o raio da viseira escurecida que tanta ajuda me deu durante o dia, era agora um inimigo para a vista cansada.

Os mosquitos, aos “milhões”, eram massacrados a cada segundo. Já rogava pragas a todos os Deuses e ao meu diretor Vitor Martins por ter dado “OK” a esta ideia de ir / vir sozinho.

Finalmente, e pelas 22H56m, chegava ao destino. Cansado, mas feliz, pois consegui cumprir com a missão a que me tinha proposto. Não que tivesse dúvidas que conseguia ou não fazer tudo isto num único dia, incluindo o desgaste da viagem de moto e curso de condução no AIA.

Mas porque mais de 800 km depois, mesmo exausto, percebi que sim, é ainda possível a um comum motociclista divertir-se e aprender em pista sem necessidade de gastar uma fortuna.

A minha Yamaha R7 que o diga, pois bastou apenas acertar a pressão dos pneus, uma lavagem, e estava pronta para voltar às viagens do dia-a-dia.

Yamaha R7: A fiel companheira

Esta viagem e participação no curso de moto da Racing School AIA foi menos desgastante do que imaginava. Isto porque a moto escolhida, e gentilmente cedida pela Yamaha Portugal, foi a desportiva R7, que apesar do DNA de moto de pista acaba por ser uma opção menos exigente, menos agressiva.

Durante as longas viagens em autoestrada e em ritmos normais, a Yamaha R7 revelou ser uma moto confortável o suficiente para nunca sentir a necessidade de me agachar completamente por trás do para-brisas. A proteção aerodinâmica é suficiente para manter o tronco levantado. Já na viagem de regresso a casa, o assento largo acabou por se tornar incómodo. Afinal, já estava há mais de 16H sentado aos comandos desta japonesa.

Em circuito, e lado a lado com superdesportivas preparadas para o efeito e com mais de 200 cv, o motor CP2 mostrou o seu valor, disponibilizando uma resposta progressiva, mas que a partir de certo ponto revelava alguma falta de “pulmão”, principalmente na saída de curva ou na longa reta do AIA, onde ficava a “mastigar” rotações para subir de velocidade.

A Yamaha R7 não tem um depósito de combustível generoso: 13 litros. Isto obrigou a paragens de abastecimento mais frequentes, e estando o AIA tão longe de um posto de abastecimento obrigou-me a recorrer à ajuda de um companheiro de box que cedeu parte do combustível que tinha num jerrican.

Como eu apareci no circuito sozinho, só com mochila às costas com o essencial, não ter um depósito maior foi penalizador numa moto que se revelou uma fiel companheira de viagem.

Os dados da viagem e curso da Racing School AIA

Esta viagem tinha como objetivo ser em modo “low cost”. Quem residir mais perto / longe do AIA, terá de ajustar os tempos de viagem e custos associados que eu apresento de seguida. Tendo em conta que no total gastei menos de 450 euros, penso que fica demonstrado ser possível andar em pista sem ter de ganhar o Euromilhões.

– Total de horas na moto – 16h30m

– Distância total percorrida – 848,2 km

– Distância percorrida em circuito – 136,2 km

– Distância percorrida em autoestrada – 652 km Casa/AIA e regresso + 60 km extra = 712 km

– Consumo médio em viagem – 4,9 litros

– Consumo médio em circuito – 6,1 litros

– Consumo médio da viagem + curso – 5,5 litros

– Despesas com gasolina – 71,17€

– Despesas com portagens – 52,65€

– Despesas totais da viagem – 123,82€

– Valor da inscrição no Curso de Moto Racing School AIA – 325€

– Despesas totais da viagem + curso – 448,82€

Galeria de fotos curso de condução Racing School AIA

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