A categoria MotoGP está em ‘ebulição’ devido ao novo Regulamento Técnico que foi esta semana anunciado. Os responsáveis pelo campeonato pretendem adaptar a competição aos tempos modernos, mas também procuram maior segurança, mais espetáculo em pista e custos menores. Daí a redução da cilindrada para os 850 cc, a aerodinâmica limitada ou ainda o desaparecimento dos sistemas de ajuste da altura dos protótipos da categoria rainha – clique aqui para saber todos os detalhes .
Porém, subsistem ainda muitas dúvidas entre os fãs de MotoGP sobre este novo Regulamento Técnico que será aplicado a partir da temporada 2027.
Para tentar responder e clarificar as dúvidas dos fãs, e a meio do primeiro dia do Grande Prémio de França de MotoGP, foi realizada no circuito de Le Mans uma conferência de imprensa especial, uma espécie de sessão de esclarecimento, dedicada inteiramente ao novo Regulamento Técnico, e que contou com a presença de Carmelo Ezpeleta, CEO da Dorna Sports, Carlos Ezpeleta, diretor desportivo da Dorna Sports, Jorge Viegas, presidente da Federação Internacional de Motociclismo (FIM), e ainda Hervé Poncharal, presidente da IRTA – associação de equipas.
Para além das explicações ‘comuns’ relativas ao lado técnico do novo regulamento, nesta conferência de imprensa especial em Le Mans abordaram-se temas que até agora não tinham sido particularmente realçados, e que no futuro poderão ter uma grande relevância para a competição em si.
Nomeadamente a entrada de novos fabricantes e o que isso significa em termos de sustentabilidade para o MotoGP, novos pneus e possível novo fornecedor dos mesmos, ou ainda a questão relativa ao lado mais ambiental da categoria rainha do Mundial de Velocidade, em específico o ruído emitido pelos protótipos.
Sobre a entrada de novos fabricantes, e num momento em que existem cada vez mais rumores sobre o forte interessa da BMW Motorrad entrar em MotoGP, rumores esses que passam mesmo a intenções claras devido às declarações do presidente da divisão de motos da marca alemã, Markus Flaasch, que refere que é sua vontade colocar a BMW Motorrad em MotoGP, mas que isso apenas acontecerá se tiverem sucesso no Mundial Superbike e se existir vontade clara por parte da administração da marca de Munique para que isso aconteça, Carmelo Ezpelta não esconde que a Dorna Sports tem sido contactada:
“Temos sido abordados por diversos fabricantes, mas obviamente todos estavam à espera de conhecer os novos regulamentos. Estamos extremamente satisfeitos com os cinco fabricantes envolvidos atualmente no MotoGP. É uma colaboração incrível. A forma como falamos com todos eles e como eles nos ajudaram nas novas regras. Mas sim, temos diferentes fabricantes a mostrarem vontade em integrar o campeonato no futuro. A sua identidade permanecerá em sigilo, obviamente”, referiu o responsável máximo da organização que gere o MotoGP.
Claro que num momento em que um novo Regulamento Técnico é ‘desenhado’, e com este interesse por parte de novos fabricantes em entrar no MotoGP, esses fabricantes poderiam ter uma palavra a dizer no novo regulamento.
Sobre isso falou Carlos Ezpeleta. O diretor desportivo da Dorna Sports referiu que “Tentámos fazer este desporto o mais interessante para os fabricantes atuais. Supomos que irá atrair novos fabricantes, porque eles (os regulamentos) fazem sentido e porque vão tornar o MotoGP melhor. Mas não existiram quaisquer conversas com fabricantes específicos, ou conversas específicas com outros fabricantes e que tenham estado ou influenciado as discussões sobre os regulamentos de 2027”.
E poderiam os novos proprietários do MotoGP, a Liberty Media, ter alguma influência na definição dos regulamentos de 2027?
“Começámos a trabalhar nestas novas regras há dois anos, não teve nada a ver com o negócio (de aquisição do MotoGP)”, referiu Jorge Viegas, presidente da FIM.
No seguimento deste tema da possível entrada de novos fabricantes a partir de 2027, Carmelo Ezpeleta abordou também o lado da sustentabilidade do campeonato.
Recordamos que a Dorna Sports apoia bastante as equipas satélite em termos financeiros ou financia as viagens de todas as equipas, e a entrada de novas equipas ou fabricantes poderia causar maior stress ao nível desses apoios fundamentais para que as equipas satélite possam competir ao nível elevado que temos vistos nas temporadas mais recentes.
Seria por isso sensato limitar o número de motos em pista, ou o número de motos que cada fabricante coloca em pista?
“Têm existido muitas conversas sobre o número de motos de cada fabricante. Temos regras, e a razão pela qual um fabricante tem mais motos que outros, é porque está a oferecer melhores condições comerciais e competitivas às equipas satélite. Para mim, o sistema que temos com seis equipas independentes é muito bom. Hoje com cinco fabricantes e seis equipas independentes são tempos muito bons em termos comerciais. Porque nos lembramos que há alguns anos era muito diferente. Para 2027 não estamos a pensar em aumentar muito o número de motos, porque pensamos que é importante manter a sustentabilidade do campeonato. Se novos fabricantes entrarem, então também teremos possibilidade de fazerem parte de uma das equipas independentes, mas a ideia é de manter a situação de liberdade comercial. Penso que não será necessário proibir, por meio de regras, que um fabricante não possa ter mais do que quatro motos ou isso. Para nós o objetivo é manter o campeonato sustentável”.
Sobre a sempre sensível questão dos pneus, nesta conferência de imprensa especial de MotoGP em Le Mans falou-se ‘ao de leve’.
É certo que a Michelin será o fornecedor desta categoria até final da temporada 2026 depois da última renovação de contrato. E Piero Taramasso, responsável da marca francesa para o MotoGP, já assumiu que existem conversas com a Dorna Sports para ‘esticar’ esse vínculo até 2028.
Porém, alguns rumores dão conta do interesse de outros fabricantes de pneus, nomeadamente a italiana Pirelli, em assumir o fornecimento exclusivo das ‘borrachas’ para os novos protótipos de MotoGP a partir de 2027. A Pirelli já fornece as categorias Moto3 e Moto2 desde o início da atual temporada, para além de fornecer outros campeonatos como o Mundial Superbike.
A marca italiana terá por isso um forte interesse em garantir um domínio absoluto dos principais campeonatos e categorias do motociclismo de Velocidade.
Sobre isto, sabemos apenas que devido ao nascimento de novos protótipos de 850 cc, os pneus de MotoGP também terão de ser redesenhados ou adaptados. Não ficou claro se a Dorna Sports pretende ‘refrescar’ o campeonato a este nível, ou se procurará uma solução mais segura, mantendo como fornecedor único a Michelin que já tem mais experiência no que diz respeito a fabricar e conceber pneus protótipo.
Outro tema relevante, mas desta feita revelando a preocupação ambiental dos novos regulamentos, foi abordado pelo português Jorge Viegas.
O presidente da FIM refere que “Temos o melhor desporto do mundo, mas não podemos ignorar o que se passa no mundo lá fora. Temos de ser mais sustentáveis, estamos também a trabalhar para reduzir um pouco o ruído das motos. Este será um segundo passo”.
O limite de ruído atualmente em vigor para os protótipos de MotoGP está fixado em 130 decibéis!
Carlos Ezpeleta também se referiu a este assunto, afirmando que “Como o presidente da FIM estava a dizer, uma das coisas em que estamos a trabalhar, em conjunto com os fabricantes, é na limitação do ruído das motos. Também estamos a trabalhar num número de componentes eletrónicos e atuadores que, digamos, são muito detalhados. E essas mudanças serão publicadas nos próximos meses”, não escondendo, no entanto, que o esboço do Regulamento Técnico de MotoGP para 2027 não inclui todas as novidades que estão a ser discutidas para serem implementadas, podendo existir algumas surpresas a este nível.
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