Moto Segurança Rodoviária – Porque uma vítima já é demais…

Segurança Rodoviária – Porque uma vítima já é demais…


Para além da conhecida Peregrinação a Fátima para realizar a Bênção dos Capacetes, um evento que reúne no santuário, de acordo com números oficiais divulgados pelo próprio Santuário, cerca de 160 mil motociclistas, a Associação Bênção dos Capacetes tem vindo a afirmar-se como uma acérrima defensora de causas ligadas ao mundo das duas rodas. Nomeadamente a sinistralidade e segurança rodoviária.

No sentido de permitir que a comunidade das duas rodas consiga debater ideias com entidades responsáveis pelas mais diversas áreas da nossa sociedade, e que têm impacto direto na nossa segurança enquanto motociclistas, a associação, sob a liderança de Carlos Pereira, tem vindo a organizar, em formato anual, o Fórum Nacional de Segurança Sensibilização e Prevenção Rodoviária para Motociclistas.

A 3ª edição desta importante iniciativa teve como cenário o Auditório da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Torres Vedras.

E foi numa sala que, infelizmente, não encheu, tendo em conta a importância dos temas discutidos, pese embora a Associação Bênção dos Capacetes “Tenha enviado mais de 400 convites!”, conforme nos confidenciou Carlos Pereira, que se discutiram os mais variados temas.

Foto @ Luís Edgar Pita Alves / Ass. Bênção dos Capacetes

Desde as causas, comportamentos, estado das vias rodoviárias, passando pela formação e educação dos motociclistas, muito foi dito, discutido e debatido, com diferentes pontos de vista moderados pelo jornalista da RTP e motociclista, António Esteves.

E onde não faltou a embaixadora da Associação Bênção dos Capacetes, a piloto portuguesa Carlota Carochinho, que mesmo sendo a pessoa mais nova neste evento, discursou perante os convidados e plateia, realçando que quem quer acelerar deverá fazer nas pistas e não na estrada.

A Revista Motojornal também não deixou de estar presente em destaque no palco, pois tivemos a oportunidade de apresentar as mais-valias dos cursos de técnicas de condução desportiva que realizamos em parceria com o simulador profissional Moto Trainer Portugal, com o proprietário do simulador, Pedro Ferreira, a ser um dos convidados para debater temas de formação dos motociclistas.

Foto @ Luís Edgar Pita Alves / Ass. Bênção dos Capacetes

DIVERSAS ENTIDADES E ESTRATÉGIAS, MAS A MESMA VONTADE

Em palco durante os dois painéis de debate que marcaram este 3º Fórum Nacional de Segurança Sensibilização e Prevenção Rodoviária para Motociclistas foi possível contar com a presença de personalidades das mais diversas áreas.

Desde a Presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras, Laura Rodrigues, que deu as boas-vindas, passando pelo discurso de Telmo Correia, Secretário de Estado da Administração Interna, que, também sendo motociclista ‘praticante’, fez questão de realçar que “A preocupação do Governo é, claramente, de procurar inverter a trajetória de abrandamento de aproximação à média europeia na sinistralidade em duas rodas”.

Nos painéis de debate estiveram, entre outros, representantes da Polícia de Segurança Pública, da Guarda Nacional Republicana, da Prevenção Rodoviária Portuguesa, da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, da Brisa, da Associação Nacional de Centros de Inspeções, Associação Nacional de Escolas de Condução, do Instituto de Mobilidade e Transportes, ou também Manuel Marinheiro, presidente da Federação de Motociclismo de Portugal.

Representantes de ‘autoridades’ de enorme relevância e que, pese embora tenham competências e áreas de intervenção bastante diversificadas, foram unânimes na vontade demonstrada em aplicar aquilo que se denomina de Visão Zero, aludindo ao objetivo de eliminar por completo as vítimas mortais entre os motociclistas nas estradas portuguesas.

Foto @ Luís Edgar Pita Alves / Ass. Bênção dos Capacetes

Para atingir este objetivo comum, estas entidades apresentaram estratégias diferentes.

Naturalmente a PSP e GNR procuraram justificar a necessidade de controlar de forma mais visível os motociclistas através das habituais operações dirigidas aos motociclistas, enquanto a ANSR – Autoridade Nacional para Segurança Rodoviária, representada pelo seu presidente, Rui Ribeiro, também ele um apaixonado motociclista, para além das inúmeras estatísticas relativas a sinistralidade rodoviária, mostra-se particularmente atenta à necessidade de alterar comportamentos dos motociclistas.

Não apenas ao nível da condução, mas também no que diz respeito aos equipamentos obrigatórios, aludindo a que as luvas deveriam estar nessa lista.

Nesse sentido, e antes de os motociclistas serem obrigados a utilizar algum equipamento de motociclismo para além do obrigatório capacete, a Revista Motojornal ‘atirou’ para a discussão a possibilidade de se reduzir o IVA aplicado aos equipamentos de proteção para ser mais fácil adquirir esses equipamentos.

Uma ideia que será, de acordo com a ANSR, analisada em patamares de decisão superiores e que poderia ser melhor recebida por parte dos motociclistas portugueses em vez de serem puramente obrigados a adquirir e utilizar outros equipamentos para além do capacete.

Foto @ Luís Edgar Pita Alves / Ass. Bênção dos Capacetes

Manuel Marinheiro, presidente da Federação de Motociclismo de Portugal, fez questão de realçar o comportamento dos motociclistas portugueses e a forma como circulam nas nossas estradas.

E, claro, ‘apontou bateriais’ à questão das Inspeções Periódicas Obrigatórias (IPO) às motos, que para o presidente da FMP não deveriam ser a principal preocupação do Governo, mas sim a formação dos motociclistas, pois está há muito demonstrado que os acidentes não se ficam a dever a questões de falhas técnicas nas motos.

E foi precisamente a formação um dos temas ‘quentes’ e que mais tempo ocupou no debate. O representante das escolas de condução, a ANIECA, admite que existe a necessidade de melhorar a forma como os motociclistas são ensinados. Em particular desde que entrou em vigor a ‘Lei das 125’.

Nesse sentido, e para além de realçar que as escolas de condução cumprem estritamente com o que está definido na Lei e que, nesse sentido, estão de certa forma de ‘mãos atadas’, o presidente da ANIECA, António Reis, anunciou que a sua associação idealizou já uma nova formação que será disponibilizada aos instrutores de condução, em instalações específicas, que servirá para os instrutores das escolas adquirirem novos conhecimentos que deverão passar aos seus alunos.

Essa nova formação foi estreada no passado dia 29 de junho em Porto de Mós. Veremos que impacto esta nova abordagem na formação dos instrutores de condução terá nos candidatos a motociclistas.

A formação necessita de ser repensada e neste Fórum Nacional de Segurança Sensibilização e Prevenção Rodoviária para Motociclistas verificámos que existe essa consciência, sendo certo que, de acordo com a ANIECA, será necessário realizar uma alteração à Lei que permita ir mais além do que temos atualmente nas nossas escolas de condução.

Foto @ Luís Edgar Pita Alves / Ass. Bênção dos Capacetes

Até porque, como foi realçado, formação não é educação!

É necessário que existam iniciativas de educação, por exemplo, dos mais jovens, para que ganhem a consciência de que os seus comportamentos em cima de uma moto podem ter consequências bastante graves.

Ficou claro, também, que o estado das vias rodoviárias é também um fator que está no ‘centro das atenções’.

A Brisa revelou que são investidos 23 milhões de euros nas condições do pavimento, enquanto a Infraestruturas de Portugal aponta para investimentos na ordem das centenas de milhões de euros, principalmente no que diz respeito à sinalização rodoviária vertical e horizontal ou colocação dos rails protegidos.

Uma lei que teve como ‘pai’ o antigo deputado e advogado Rodrigo Ribeiro, também ele convidado de destaque neste fórum, e que fez questão de no seguimento da sua experiência como motociclista, mas também como advogado de motociclistas e famílias de motociclistas vítimas de acidentes, trazer para a discussão um lado mais humano.

Porque, nas palavras e exemplos dados por Rodrigo Ribeiro, as indemnizações conseguidas em tribunal, servem apenas para minimizar de alguma forma as consequências dos acidentes que, no pior dos casos, envolvem vítimas mortais.

Foto @ Luís Edgar Pita Alves / Ass. Bênção dos Capacetes

OS NÚMEROS QUE QUEREMOS BAIXAR

Porque uma vítima mortal já é uma vítima a mais, interessa destacar alguns números que os nossos leitores devem ter na sua mente cada vez que estiveram aos comandos de uma moto.

De acordo com os dados da ANSR no relatório de 2023, faleceram nas nossas estradas, infelizmente, nada menos do que 127 motociclistas resultantes de 902 acidentes. Já os feridos graves foram 831. Um crescimento superior a 16% de acidentes com vítimas em comparação com 2022 e perto de 26% a mais em comparação com 2019.

Nos ciclomotores as notícias são de certa forma positivas, pois o relatório da ANSR aponta para um decréscimo de 25%.

A PSP revela que nas vias que estão sob a sua vigilância em cada 7 acidentes com motociclos, um resulta em pelo menos uma vítima mortal. E da parte da Brisa foi revelado que nas vias sob a sua jurisdição, apesar de apenas 5% dos acidentes registados envolverem uma moto, o número de feridos graves ou vítimas mortais é de 18%. O que reforça a ideia de que nas estradas os motociclistas são o ‘elo mais fraco’.

Foto @ Luís Edgar Pita Alves / Ass. Bênção dos Capacetes

TESTEMUNHO DE CORAGEM

Se os discursos e debates ‘oficiais’ do 3º Fórum de Segurança Sensibilização e Prevenção Rodoviária para Motociclistas promovido pela Associação Bênção dos Capacetes foram o foco principal da iniciativa, a realidade é que a plateia aplaudiu de pé a presença de Ana Soares.

Presidente da associação Rasga Migas, Ana Soares perdeu o filho, o Miguel ‘Migas’ Marques, num acidente de moto.

Integra a campanha de sensibilização da Associação Bênção dos Capacetes e partilhou connosco a sua experiência enquanto mãe que perdeu o filho, relatou os detalhes do acidente que, diz, podia perfeitamente ter sido evitado.

Apesar da dor da perda que continua a sentir diariamente, Ana Soares fez questão de tirar a carta de moto e andar de moto, e a sua associação trabalha para denunciar casos de problemas no estado de conservação das vias ou até situações potencialmente perigosas para os motociclistas.

Como confidenciou, o seu filho faleceu porque um condutor de um automóvel decidiu mudar de direção rumo a uma berma porque queria comer uma bifana numa das muitas rulotes à beira da estrada. Num local em que a sinalização rodoviária foi alterada ilegalmente, e que todas as circunstâncias que rodearam o acidente mortal tiveram contornos de ilegalidade, conforme contou a Ana Soares à Revista Motojornal aqui quando falámos sobre a Associação Rasga Migas.

Uma morte que, garante, poderia ter sido evitada com fiscalização prévia por parte das autoridades competentes, e que resultou num processo que para além da vítima mortal deixou à vista uma ‘gritante’ ineficácia a vários níveis, incluindo a forma como as autoridades registam os acidentes e que leva a que situações semelhantes não sejam alteradas por não existir o conhecimento de que determinado local é um perigo para os motociclistas.

Quanto ao futuro desta iniciativa, Carlos Pereira garante que a Associação Bênção dos Capacetes continuará a trabalhar nesta missão de segurança rodoviária. A 4ª edição está já delineada, mas mais detalhes, como o local de realização do próximo Fórum Nacional de Segurança Sensibilização e Prevenção Rodoviária para Motociclistas serão conhecidos mais para a frente.

Galeria de fotos 3º Fórum Nacional de Segurança Sensibilização e Prevenção Rodoviária para Motociclistas

Fique atento a www.motojornal.pt para estar sempre a par de todas as novidades do mundo das duas rodas. A não perder!

O conteúdo Segurança Rodoviária – Porque uma vítima já é demais… aparece primeiro em MOTOJORNAL.

Related Post

Generated by Feedzy