O Grande Prémio da Austrália de MotoGP pode ficar na memória por muitas coisas. Para além das batalhas pela vitória, a assustadora queda que envolveu Maverick Viñales e Marco Bezzecchi na corrida Sprint, ou ainda os diversos animais que tiveram intervenção direta na ação em pista. Mas também temos de referir Raul Fernandez.
No mesmo Grande Prémio da Austrália onde tudo isto aconteceu, o piloto espanhol da Trackhouse Racing mostrou que se pode competir ao mais alto nível na categoria rainha, terminar uma corrida, e conseguir inclusivamente terminar no ‘Top 10’, sem que a sua moto estivesse equipada com as famosas asas!
Numa situação que passou relativamente despercebida, o espanhol da Trackhouse Racing decidiu competir na corrida principal do Grande Prémio da Austrália com a sua Aprilia RS-GP24 desprovida de qualquer tipo de asas.
A equipa americana refere que Raul Fernandez testou durante a curta sessão de Warm Up na manhã de domingo esta opção aerodinâmica, gostou dos resultados, e decidiu arriscar competir em corrida sem asas na sua Aprilia. Uma opção que terá tido como objetivo minimizar os efeitos provocados pelos ventos cruzados que se fizeram sentir em Phillip Island, e que estariam a afetar a estabilidade da moto a alta velocidade, mas não só.
Nesta aposta altamente diferenciada e, dirão alguns, arriscada, por parte de Raul Fernandez, tendo em conta a relevância que as asas ganharam na era mais recente do MotoGP, podemos destacar que o piloto espanhol queixou-se de que a frente da sua moto levantou muito no momento do arranque. Perdeu aí alguns lugares nesse início de corrida e depois teve de lutar para os ganhar novamente.
Esse mau arranque não será atribuído à ausência das asas, pois a força descendente é mais forte e notória a velocidades muito mais elevadas. Mas ao longo da corrida o piloto espanhol conseguiu manter um bom ritmo, cruzou a meta em 10º, e acredita que poderia ter ficado melhor classificado não fosse o mau arranque.
Esta foi uma prestação por parte de Raul Fernandez que é muito interessante do ponto de vista de uma análise à importância do uso das asas e apêndices aerodinâmicos, ou a possibilidade de se ser competitivo sem elas.
E que pode levar a perguntar se as asas são mesmo assim tão necessárias?
Para ajudar a compreender melhor as diferenças, e talvez ajudar a encontrar uma resposta a esta pergunta, decidimos compilar alguns dados da performance de Raul Fernandez ao longo das diversas sessões no fim de semana em Phillip Island. Um circuito que, convém também ter em conta, pelas suas características – menos zonas de travagem e aceleração fortes – poderá reduzir a relevância ou impacto das asas na performance e resultados finais.
Apenas nos referimos às sessões realizadas com piso seco, pois para uma boa comparação não faz sentido utilizar também as sessões com piso molhado, neste caso o Treino Livre 1 e Treino Livre 2 do GP da Austrália. E adicionamos ainda os melhores dados absolutos de cada sessão.
Raul Fernandez (Trackhouse Racing) no GP da Austrália de MotoGP
Treino – com asas
Melhor tempo – 1m30.058s
Diferença para o melhor tempo – 2.288 segundos (Marc Márquez: 1m27.710s)
Velocidade máxima – 333,4 km/h (Maior velocidade: Francesco Bagnaia com 345 km/h)
Velocidade média – 332,3 km/h (Maior vel. média: Brad Binder com 343,4 km/h)
Qualificação 1 – com asas
Melhor tempo – 1m29.397s
Diferença para o melhor tempo – fez o melhor tempo
Velocidade máxima – 336,5 km/h (Maior velocidade: Enea Bastianini com 341,8 km/)
Velocidade média – 332,2 km/h (Maior vel. média: Enea Bastianini com 339,7 km/h)
Qualificação 2 – com asas
Melhor tempo – 1m28.498s
Diferença para o melhor tempo – 1.202 segundos (Jorge Martin: 1m27.296s)
Velocidade máxima – 344 km/h (Maior velocidade: Maverick Viñales com 350,6 km/h)
Velocidade média – 338,3 km/h (Maior vel. média: Maverick Viñales e Jorge Martin com 345,7 km/h)
Sprint (13 voltas) – com asas
Melhor tempo – 1m28.666s
Diferença para o vencedor (Jorge Martin) – 15.249 segundos
Velocidade máxima – 347,3 km/h (Maior velocidade: Francesco Bagnaia com 352,9 km/h)
Velocidade média – 344,6 km/h (Maior vel. média: Francesco Bagnaia com 348,6 kmh)
Warm Up – sem asas
Melhor tempo – 1m28.654s
Diferença para o melhor tempo – 0.842 segundos (Marc Márquez: 1m27.812s)
Velocidade máxima – 345 km/h (Maior velocidade: Francesco Bagnaia com 352,9 km/h)
Velocidade média – 340,7 km/h (Maior vel. média: Francesco Bagnaia com 348,8 km/h)
Corrida (27 voltas) – sem asas
Melhor tempo – 1m28.537s
Diferença para o vencedor (Marc Márquez) – 19.345 segundos
Velocidade máxima – 345 km/h (Maior velocidade: Enea Bastianini com 355,2 km/h)
Velocidade média – 344,3 km/h (Maior vel. média: Enea Bastianini com 351 km/h)
Com estas performances como base de análise, podemos realçar que a velocidade máxima da Aprilia RS-GP24 #25 da Trackhouse Racing na corrida principal foi de 345 km/h, sem asas montadas, o que contrasta com a velocidade máxima do piloto em todo o fim de semana e que foi obtida na corrida Sprint: 347,3 km/h, com asas montadas.
A diferença para o piloto com maior velocidade máxima na corrida principal foi de 10,2 km/h, enquanto essa diferença na corrida Sprint ficou-se pelos 5,6 km/h.
Do ponto de vista das velocidades médias, a diferença entre a performance de Raul Fernandez e da sua Aprilia na Sprint com asas para a corrida principal sem asas é muito reduzida: 344,6 km/h contra 344,3 km/h. Uma diferença negligenciável. Já em relação ao piloto com maior velocidade média na Sprint a diferença é de 4 km/h, enquanto na corrida principal a diferença é de 6,7 km/h.
Curiosamente, se dividirmos a diferença de tempo em cada uma das corridas para o vencedor (Jorge Martin na Sprint e Marc Márquez no GP da Austrália), verificamos, com a ajuda dos dados, que na corrida de 13 voltas o espanhol Raul Fernandez perdeu por volta 1.173 segundos, e na corrida de 27 voltas a perda de tempo por volta para o vencedor foi bastante menor, neste caso 0.716 segundos. Isto numa corrida que foi quase um minuto mais rápida no seu tempo total do que o Grande Prémio da Austrália de 2023!
E ainda nas diferenças de tempo total de corrida, convém também referir que na corrida Sprint o Raul Fernandez foi o melhor piloto da Aprilia em 7º, um lugar à frente do segundo melhor piloto da marca, Aleix Espargaró, que precisou de mais 4.031 segundos para completar as 13 voltas da Sprint.
Já na corrida principal de domingo, Maverick Viñales, que competiu com asas montadas na sua moto, foi o melhor piloto Aprilia em 8º, sendo que Raul Fernandez sem as asas foi 10º e ficou a 2.709 segundos do seu compatriota.
Muitos fãs e até alguns antigos pilotos, como Casey Stoner, que aproveitou o acidente de Maverick Viñales e Marco Bezzecchi para voltar a insurgir-se contra o uso das asas nos protótipos de MotoGP, pedem que estas soluções aerodinâmicas sejam totalmente banidas para melhorar o espetáculo em pista e até do ponto de vista da segurança.
E perante os dados e resultados apresentados por Raul Fernandez num fim de semana onde competiu com asas e sem asas na sua moto, faz sentido perguntar: as asas nas motos valem a pena?
Porém, sabemos já que o novo Regulamento Técnico de MotoGP não prevê que as asas sejam proibidas. Serão, no entanto, obrigadas a apresentar dimensões máximas mais reduzidas.
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