De acordo com dados da proposta de lei relativa ao Plano Económico e Social e Orçamento do Estado (PESOE) de 2025, em análise na Assembleia da República, a previsão do Governo aponta para a produção em Moçambique, este ano, de 41.879 toneladas de grafite, recuperando assim parte da queda de 64% no ano passado, face a 2023, quando reduziu para 34.899 toneladas.
Em 2023, essa produção ascendeu a 97.346, após o recorde, no ano anterior, de 165.932 toneladas, e de 77.116 toneladas em 2021, segundo o histórico oficial.
“Para a grafite, a previsão de crescimento é de 20%. Este aumento conta com a entrada da produção da DH Mining em Niassa”, sublinha a proposta orçamental, referindo-se ao início da atividade de um grupo chinês no distrito de Nipepe em 05 de maio e a perspetiva de extração de 200 mil toneladas por ano quando estiver em plena produção.
Entretanto, a mineradora australiana Syrah anunciou em 06 de maio que recuperou o acesso à mina de grafite que opera em Balama, Cabo Delgado, norte de Moçambique, cerca de cinco meses depois de ter invocado “força maior” pelo agravamento das manifestações pós-eleitorais, situação que acumulou três trimestres sem exportação daquele mineral.
Num comunicado aos mercados, a Syrah referia que os protestos junto à mina, que condicionavam a atividade, terminaram e o acesso ao local foi restabelecido, após a intervenção das autoridades moçambicanas, que no fim de semana retiraram os últimos “manifestantes ilegais”.
“Após um acordo formal firmado entre agricultores, autoridades do Governo de Moçambique e a empresa, a maioria dos manifestantes interrompeu os protestos em Balama em abril de 2025. Um pequeno grupo de pessoas continuou a bloquear o acesso ao local sem motivo legítimo, nem reclamação contra a Syrah”, lê-se na mesma informação da mineradora.
A empresa está a “mobilizar equipas de apoio” para o local da operação, para atividades de “inspeção e manutenção”, prometendo para breve uma atualização sobre o reinício das operações em Balama e os embarques de produto.
A mineradora australiana anunciou em 12 de dezembro que invocou “força maior” pelo agravamento das manifestações e contestação aos resultados das eleições gerais de 09 de outubro de 2024 – que já provocaram cerca de 400 mortos, além de destruição de equipamentos públicos e privados -, que condicionavam a atividade na mina moçambicana de grafite em Balama.
O termo “força maior” é um conceito jurídico que se refere a eventos externos, imprevisíveis e inevitáveis que impedem o cumprimento de obrigações contratuais.
A firma australiana está também a construir a Vidalia, nos Estados Unidos da América, uma fábrica de material para baterias, que será alimentada com minério moçambicano, neste caso com duas toneladas enviadas em abril do ano passado.
A produção de grafite em Moçambique, para baterias de carros elétricos, recuou 64% em 2024, para 34.899 toneladas, um dos registos mais baixos dos últimos anos, segundo dados do Governo noticiados pela Lusa em fevereiro.
De acordo com o relatório de execução orçamental do Ministério das Finanças referente a 2024, a redução, que corresponde a apenas 11% da meta de 329.040 toneladas de grafite estipulada para todo o ano, resultou sobretudo da paralisação das atividades da GK Ancuabe Graphite Mine, em 2023.
“Bem como a interrupção das atividades da empresa Twigg Mining and Exploration [do grupo australiano Syrah], devido à introdução no mercado internacional da grafite sintética, aliada a problemas laborais na empresa que culminaram com a paralisação das operações mineras”, lê-se no documento.