Nos últimos anos, a inflação tem estado na ordem do dia, e também o setor automóvel assistiu a um forte aumento de preços. Mas será só por causas externas?
O Institut Mobilités, uma ONG francesa, conclui que não, num estudo com a colaboração da consultora C-Ways que incidiu nos dados de França. Mas pode extrapolar-se para a Europa como um todo, visto que as políticas de preços são definidas para a União Europeia.
Este mostra que, naquele país, o preço médio dos veículos novos subiu 24 por cento, ou 6.800 euros, entre 2020 e 2024. No mesmo período, a ACEA indica que, em toda a Europa, as vendas quebraram de 15,3 milhões de carros em 2019 para 10,6 milhões no ano passado.
Como é natural, há fatores sobre os quais os construtores não têm controlo e afetam a indústria no geral, como a volatilidade das matérias-primas ou da mão-de-obra. Mas o trabalho do Institut Mobilités separou as possíveis causas – aquelas que escapam ao controlo das empresas, as que dependem diretamente de si e as híbridas.
No entanto, não conseguiu isolar o impacto do aperto da regulamentação europeia (Euro6DFull e GSR2), tantas vezes mencionado por alguns construtores como justificação.
O aumento dos custos das matérias-primas, energias e mão-de-obra não pode ser controlado pelos construtores e representa seis dos 24 por cento da subida do preço dos automóveis – assim como motivos híbridos, associados à eletrificação do automóvel.
Metade do crescimento de 24 por cento é atribuído, neste estudo, a aspetos que estão na mão dos construtores: poder de fixação de preços (4 por cento) e a subida de gama dos carros (8 por cento), embora com oscilações consideráveis entre fabricantes, de acordo com o relatório.
As marcas têm optado por uma estratégia de vender menos, mas mais caro e com maiores margens de lucro. E o estudo revela que nem o construtor conhecido por ter carros mais acessíveis escapa: “A Dacia, tradicional campeã de preços, viveu a subida mais significativa em gama e preço de todas as marcas. A falta de componentes eletrónicos em 2022/2023 reforçou e facilitou esta estratégia”.
As perspetivas do estudo para os próximos anos não são animadoras, antevendo a continuidade da subida dos preços dos automóveis por conta da eletrificação e do “desejável reposicionamento da cadeia de valor na Europa (guiada por políticas industriais e fiscais a favorecerem produtos ‘Made in Europe’)” – ou seja, a maior concentração do fabrico dos automóveis na Europa.
Ainda assim, o documento defende que “existem alavancas para conter ou até reverter este aumento”, como “voltar a um segmento misto típico da década anterior”.
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