A Jeep e o Clube Escape Livre unem-se na recriação de uma tradição com mais de quatro séculos: levar neve da Serra da Estrela até à capital portuguesa, Lisboa.
Segundo aquele clube, o hábito começou em 1614, quando todos os dias eram transportadas 450 a 600 kg de neve da Serra da Estrela até Lisboa para consumo do rei. Como é natural, eram blocos de gelo, e não a neve no seu estado macio. E isto acontecia entre o início de maio e o fim de setembro. Até eram colocados corantes no gelo, formando ‘gelados’.
Na altura, o transporte da neve extraída da Serra da Estrela era feito por burros e por barcos, com o produto armazenado em ‘geleiras’. Hoje em dia, a tradição é recriada com modernidade.
A iniciativa ‘Jeep Dá Neve a Lisboa’ começou ontem, 18 de setembro, e estende-se até amanhã, 20 de setembro. O novo Jeep Compass lidera a caravana do evento, que percorre “estradas históricas até Alcochete”. Depois, o rio Tejo é atravessado em barcos tradicionais, com chegada ao Terreiro do Paço na tarde de sábado. Aí, haverá oferta de granizados aos visitantes, a partir das 16h00.
Levar neve a Lisboa era mais do que uma tradição
Segundo o site oficial da Real Fábrica do Gelo – hoje monumento nacional – já nos inícios do século XVII se fazia o transporte de neve para Lisboa: “A neve vende-se no Terreiro do Paço e à porta de Santa Catarina”, em 1619, pode ler-se.
Foi, inclusive, instituído o “neveiro oficial da Casa Real”, em 1717 – o responsável por transportar a neve (ou gelo) até à corte em Lisboa, para consumo na forma de gelados e refrescos.
Há, até, registos de uma “crise de fornecimento de neve na cidade de Lisboa” entre 1730 e 1733. Viria a ser construída uma fábrica de neve na Serra de Montejunto e, em 1742, houve uma “resolução régia de concessão de privilégio a Trofimo Pailleta para fornecimento de neve na Serra da Estrela, na forma do costume, para que não falte na cidade [de Lisboa]”.
O transporte vindo da Serra da Estrela daria, mais tarde, lugar a uma solução de maior proximidade e mais prática: a Real Fábrica do Gelo, situada na Serra de Montejunto, dedicou-se ao fabrico de gelo natural entre o século XVIII e o final do século XIX.
Dispunha de tanques de congelação e até de um edifício onde o gelo era preparado e armazenado, antes de ser enviado para Lisboa onde abastecia não só a Casa Real, como também o hospital e certos cafés.
Como o Martinho da Arcada, que também foi conhecido por ‘Casa da Neve’ por lá se consumir – como até foi descrito em ‘O Primo Basílio’ por Eça de Queiroz: “Depois diante do Martinho, falou em irem tomar neve; mas D. Felicidade receava a frialdade; Luísa tinha vergonha. Pelas portas do café abertas, viam-se sobre as mesas jornais enxovalhados; e algum raro indivíduo, de calça branca, tomava placidamente o seu sorvete de morango”.
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