Com os problemas na Nexperia, fornecedora de ‘microchips’, os construtores automóveis da Europa e do Japão preparam-se para possíveis perturbações no seu acesso a estes componentes vitais.
O presidente da Associação de Construtores Automóveis Alemães (VDA), Hildegard Müller, anunciou esta semana em comunicado: “Os fabricantes automóveis e os fornecedores receberam uma notificação da Nexperia a descrever uma sequência de eventos que levou a empresa a já não ser capaz de assegurar totalmente o fornecimento dos seus ‘chips’ à cadeia de abastecimento automóvel”.
Esta quinta-feira, 23 de outubro, a Associação de Construtores Automóveis do Japão (JAMA) divulgou uma nota no seu site: “Foi confirmada a receção de uma notificação de um fabricante de semicondutores nos Países Baixos, a indicar que é possível que não consiga garantir as entregas”.
Ameaça séria à produção automóvel
Segundo a entidade, os “os ‘chips’ produzidos pelo fabricante em questão são componentes críticos utilizados nas unidades de controlo de eletrónica e outros sistemas”, pelo que esta é “uma séria ameaça às operações globais de produção” dos construtores.
A VDA também admite a possibilidade de constrangimentos na atividade: “A situação pode levar, em breve, a restrições de produção significativas – ou até a uma paragem na produção – se a interrupção nas entregas de ‘chips’ da Nexperia não puder ser resolvida no curto prazo”.
Esta semana, a Reuters noticiou que o Grupo Volkswagen terá notificado os funcionários para eventuais condicionamentos: “Tendo em conta a situação dinâmica, não podem ser descartados impactos na produção no curto prazo”. Também outros fabricantes, como a BMW ou aa Mercedes, estão a acompanhar a evolução da situação relativa à Nexperia.
Já a Associação de Construtores Automóveis Europeus (ACEA) fez saber que “a 10 de outubro, os fabricantes automóveis e os seus fornecedores foram notificados da situação na Nexperia, sublinhando que “sem estes ‘chips’ os fornecedores automóveis europeus não podem construir as peças e componentes necessários para fornecer aos construtores automóveis, e, portanto, isto ameaça com paragens de produção“.
Existem alternativas no mercado, mas certos componentes requerem a homologação, num processo que pode levar vários meses. Os ‘chips’ da Nexperia podem esgotar em poucas semanas, segundo a ACEA – que, assim, apela a uma rápida resolução da situação.
Afinal, o que aconteceu com a Nexperia?
No fim de setembro, o governo holandês assumiu o controlo da Nexperia, uma empresa que é da chinesa Wingtech Technology. Esta encontra-se na ‘lista negra’ do Departamento do Comércio dos Estados Unidos da América, por preocupações relativas à segurança nacional.
Em meados de outubro, o ministério da Economia dos Países Baixos justificou a decisão com as preocupações sobre “uma ameaça à continuidade e à proteção, em solo holandês e europeu, de conhecimentos e capacidades tecnológicas cruciais“.
Na mesma nota, o governo disse que pretendia “impedir uma situação em que os bens produzidos pela Nexperia […] ficassem indisponíveis num cenário de emergência”.
Na reação, a China impediu, então, a Nexperia e os seus subcontratantes de exportarem produtos oriundos de fábricas naquele país – o que coloca as operações europeias sob pressão.
O ‘braço’ chinês da Nexperia recomeçou a fornecer semicondutores aos distribuidores locais esta quarta-feira, segundo a agência Reuters que cita duas fontes por dentro do assunto. No entanto, as transações só poderão ser em yuan, numa operação mais independente da ‘casa mãe’ holandesa.
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