“A mobilidade elétrica é uma força que está a redefinir o panorama automóvel. No entanto, enquanto a indústria de fabricação automóvel se reinventa a grande velocidade, o aftermarket parece caminhar a um ritmo muito diferente.
Estará o segmento do pós-venda automóvel realmente preparado para a transformação digital que acompanha os elétricos?
Há quem veja os veículos elétricos como uma ameaça ao aftermarket: menos peças, menos manutenção, menos trabalho. Mas esta leitura pode revelar-se redutora, uma vez que a eletrificação dos veículos promete abrir portas para uma nova era de crescimento, mais tecnológica e mais sustentável.
Em Portugal, os veículos totalmente elétricos representam apenas 2% do parque automóvel e têm, na sua grande maioria, uma idade média inferior a cinco anos, podendo, por isso, beneficiar da garantia oferecida pelas marcas e ser direcionados para a área do pós-venda oficial. Isto significa que a eletrificação está a ter um impacto ainda muito reduzido nesta vertente do setor automóvel.
Contudo, a eletrificação mantém o seu rumo e o potencial de crescimento do pós-venda aumentará à medida que as viaturas envelhecerem – uma oportunidade incontornável para todos os operadores na próxima década, impulsionada por uma nova geração de componentes de alto valor, como baterias, inversores, sensores e módulos eletrónicos. Em paralelo, a digitalização evolui rapidamente, transformando a forma como as empresas operam, com plataformas de comércio eletrónico de peças, diagnósticos remotos, manutenção preditiva baseada em inteligência artificial e oficinas inteligentes capazes de antecipar falhas antes de o cliente as comunicar.
Neste contexto, é crucial perceber que as oportunidades geradas no aftermarket não se traduzem apenas na tecnologia, mas também no ambiente. O crescimento do negócio será impulsionado pela transição para modelos circulares, que pressupõem a reutilização de módulos de bateria, a reciclagem avançada e a rastreabilidade digital, permitindo saber de onde vem e para onde vai cada componente.
Trata-se de um futuro que exige uma nova reorganização estratégica, focada na inovação, na tecnologia e no cliente final, que procura, cada vez mais, experiências digitais. E num outro plano – mas não menos importante -, exige um investimento em formação dos profissionais do pós-venda, dada a complexidade técnica e elevada sofisticação dos veículos elétricos. Os operadores que conseguirem melhorar a sua eficiência operacional e experiência de cliente com base nas competências técnicas dos seus profissionais, terão uma vantagem competitiva, criando valor não só para si, mas para toda a cadeia.
A eletrificação dos veículos já transformou profundamente o setor automóvel, tornando-o mais forte e resiliente. Por isso, acredito que no que toca ao mercado de pós-venda, essa transformação chegará naturalmente, com desafios a serem convertidos em oportunidades estratégicas de longo prazo e incertezas em crescimento sustentável.”
