Sem categoria "Com elétricos a 40.000 euros não se trata do problema do planeta"

"Com elétricos a 40.000 euros não se trata do problema do planeta"


Para Carlos Tavares, o problema dos preços dos veículos elétricos continua a ser um problema quando se quer alterar o parque automóvel de um país. O CEO da Stellantis refere que há “dogmatismo” que tem de ser ultrapassado e fala no real entrave que é o poder de comprar da classe média.

“Eu acho que a solução é de pragmatismo relativamente simples. Se quisermos olhar para a realidade, há duas dimensões. A primeira dimensão é a idade média dos veículos em circulação. Em Portugal é de 14 anos e na Europa é de 12. Tomem como exemplo um carro atual de segmento B como o Peugeot 208 ou o Opel Corsa. Se compararem as emissões desses com os mesmos carros do segmento de há 15 anos, vão ver que as emissões foram reduzidas em um terço. Ora, se se for buscar ao parque de veículos em circulação um carro com 15 ou 20 anos, tirando-o do mercado e criando um subsídio para um carro mild hybrid, as emissões [de CO2] vão passar de 300 para 100 gramas. E vai poder fazer isso a um custo para o Estado e de preço para os clientes que é muitíssimo razoável. E que as classes médias podem pagar desde que custe menos de 20.000 euros”, começa por dizer, à margem da conferência da Ordem dos Engenheiros, que se realizou no Porto.

“Simplesmente, essa solução tem um grande problema: é que esbarra no dogmatismo daqueles que não querem ouvir falar de veículos térmicos. A partir daí, quer-se impor a venda de veículos elétricos que, no mesmo segmento, hoje, custam entre 35.000 a 40.000 euros. Portanto, a classe média não pode comprar. Logo, não há volume, não há impacto e não se trata do problema do planeta”, acrescentou Tavares.

O CEO da Stellantis explica ainda que os fabricantes europeus agora enfrentam um dilema grande frente aos chineses, uma vez que estes “tem uma vantagem de custos 30% inferior”.

“Se eles o fizerem, que é vender os seus elétricos ao preço dos modelos com motor de combustão – o que não fizeram até ao momento por uma razão simples, porque não querem ser acusados de criar um banho de sangue social, mas podem a qualquer momento fazê-lo –, os construtores europeus só podem fazer uma coisa que é vender carros com prejuízo. Ou perder quota de mercado, o que quer dizer a mesma coisa. Se perder quota de mercado, a base de negócio é mais restrita, logo tem de se redimensionar a empresa e cria-se um problema social. Se vender os carros ao preço daqueles dos chineses, mas tendo custos de produção superiores, está-se a vender com prejuízo. Logo, reestruturação e problema social. Portanto, os governantes estão agora a esbarrar nesta realidade, que já há sete anos que estou a explicar, mas não ouvem. E não sou o único”, sublinhou.

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