O Automóvel Clube de Portugal (ACP) pretende que o Estado volte a financiar o Rali de Portugal, o que sucedeu pela última vez em 2021, argumentando que o evento que custa quatro milhões de euros é deficitário.
Em declarações hoje, durante a sessão de apresentação da partida cerimonial do Rali de Portugal deste ano, agendada para Coimbra, a 09 de maio, o diretor de operações do ACP, João Mendes Dias, enalteceu o apoio dos municípios à prova portuguesa do Mundial de ralis (WRC), revelando que a competição é deficitária financeiramente.
“Uma prova com esta dimensão, com este nível de segurança, com este nível de exigência em termos de mobilização de recursos, de logística, é uma prova que tem custos muitíssimo grandes, e que não são compatíveis com um financiamento meramente empresarial, tendo que contar com o apoio público”, defendeu João Mendes Dias à agência Lusa, em declarações à margem da sessão.
O dirigente do ACP esclareceu o apoio financeiro do Estado português ao Rali de Portugal ao longo dos anos, argumentando que este “tem vários momentos”, tendo sido assumido, durante um logo período, pelo Turismo de Portugal e, mais recentemente, até 2021, financiado pelas Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional.
“Em 2021, terminado o período de vigência do modelo mais recente, não foi possível retomar o período anterior em que o apoio vinha via Turismo de Portugal”, adiantou.
Atualmente, o ACP está em conversações com ambas as entidades para “ver que modelo pode ser possível voltar a adotar, para retomar aquilo que sempre foi a prática de apoios ao rali e que, no fundo, é o que acontece praticamente em todo o lado”, observou João Mendes Dias.
Só em custos dos serviços prestados por entidades do próprio Estado ou outras relacionadas — como a GNR, PSP, Proteção Civil e bombeiros — o rali de Portugal custa, sensivelmente, um milhão de euros, ou seja, “uma parcela muito significativa num encargo global que ronda os quatro milhões de euros”.
O responsável do Automóvel Clube de Portugal notou que “as contas e os equilíbrios são muito delicados”, sustentando que as fontes de receita são os apoios dos municípios (15 este ano recebem o rali, seis na região Centro e nove na região Norte do país), a que se somam os patrocinadores e as inscrições das equipas.
“O que é curto para o nível de investimento que está aqui em questão e para garantirmos que fazemos a prova com a qualidade que fazemos. Esse apoio central é um apoio muito necessário para viabilizar o equilíbrio destas contas”, reafirmou João Mendes Dias.
Sendo o ACP uma entidade de interesse público sem fins lucrativos, o Rali de Portugal não tem lucro: “Pelo contrário, tem, nestes últimos anos, suportado uma lacuna que queremos acreditar que é temporária. Dá prejuízo ao ACP e esse prejuízo é uma parte relevante dos quatro milhões de euros que a prova custa”.
João Mendes Dias lembrou ainda que há diversas organizações em vários países a querer inscrever o seu rali no WRC, já que se trata de “uma distinção importante e o nível de exigência para que isso aconteça é elevadíssimo”.
“E, obviamente, associado a essa exigência, vêm os custos necessários para suportar tudo o que isso representa. Daí a nossa opinião clara de que isto é uma iniciativa que promove o país, promove Portugal não só como destino desportivo, mas como destino turístico. A maior parte das pessoas que participam nas nossas provas vai daqui deslumbrada com o país”, enfatizou.
E, para além dos impactos diretos associados à prova (estimados pelo ACP em 2023 em 165 milhões de euros, naquilo que João Mendes Dias hoje afirmou constituir um retorno que o rali dá aos municípios), o dirigente destacou ainda “todos os benefícios com os regressos” de quem vem volta como turista.
“Também por isso, é para nós inequívoco que o Rali de Portugal merece e precisa de voltar a ter uma componente de apoio central”, constatou.