Argentina, Cazaquistão e Índia têm em comum o facto de terem sido ‘riscados’ do calendário 2024 de MotoGP, pelas mais diversas razões. E podemos, infelizmente, pois no meio da tragédia perderam-se centenas de vidas, estar perante mais uma ronda cancelada: o Grande Prémio da Comunidade Valenciana.
A catástrofe de proporções enormes que se abateu sobre a região de Valência não terá causado danos diretos no circuito Ricardo Tormo. Porém, a zona circundante está a passar por momentos muito complicados.
Para além das vidas que se perderam durante a passagem da tempestade DANA, há a registar danos graves nas mais diversas infraestruturas valencianas, incluindo estradas de acesso ao circuito. Há relatos de cortes de eletricidade e falhas no fornecimento de água. E, nas últimas horas, registam-se já pilhagens a supermercados.
Uma situação de emergência que, sendo o principal foco as vidas das comunidades afetadas, acaba por extravasar para o mundo da competição e mais propriamente para o MotoGP, que deveria, de 15 a 17 de novembro, disputar no circuito Ricardo Tormo a sua última ronda da temporada 2024.
Para já, e para além dos pilotos que já referiram que por eles não se competiria no traçado valenciano por questões éticas e de respeito pela população local, temos algumas informações que saem do paddock de Sepang, onde este fim de semana se disputa o Grande Prémio da Malásia, que dão conta da existência de algumas alternativas caso a Dorna e toda a comunidade do MotoGP seja obrigada a não viajar para Valência.
A Dorna e a equipa liderada por Carmelo Ezpeleta, procura, em ritmo de contrarrelógio, encontrar uma solução para esta situação. Até porque no próximo domingo de madrugada (hora de Portugal) os contentores do paddock e equipas já devem estar a viajar de regresso à Europa.
As alternativas que por agora parecem ser as mais fortes, caso não seja possível realizar o GP da Comunidade Valenciana, são a realização de uma segunda corrida na Malásia, viajar para o Qatar e finalizar a temporada em Losail, ou então viajar para a Catalunha ou ainda uma derradeira alternativa que seria competir em Portugal, no Autódromo Internacional do Algarve.
Um segundo Grande Prémio na Malásia pode fazer sentido. Todo o equipamento já se encontra no circuito de Sepang desde esta semana, os pilotos poderiam regressar à sua casa durante alguns dias e depois viajar para a Malásia para a suposta segunda corrida. Porém, nem a Michelin, que fornece os pneus de MotoGP, nem a Pirelli, que fornece os pneus às Moto2 e Moto3, têm a quantidade de pneus necessários para realizar essa segunda ronda malaia.
Existem rumores de que neste cenário alternativo, e tendo em conta que os títulos de Moto2 e Moto3 estão já entregues aos respetivos novos campeões, poderia acontecer que apenas as equipas de MotoGP tenham de competir uma segunda vez na Malásia, evitando assim que as equipas das outras categorias tenham de suportar os encargos extraordinários.
O circuito de Losail no Qatar está disponível para acolher a derradeira ronda de MotoGP em substituição de Valência. Mas, muito provavelmente, o timing para garantir que tudo estaria pronto para esse evento obrigava a alterar a data do mesmo para mais perto do fim do mês ou até dezembro.
Sobre tudo isto, estas alternativas, Carmelo Ezpeleta não se pronuncia e prefere resguardar a Dorna de qualquer decisão tomada em ‘cima do acontecimento’.
O CEO da Dorna refere que “Em princípio, a data original (GP da Comunidade Valenciana) deverá manter-se. Estão a trabalhar para recuperar as estradas de acesso e as instalações. O circuito não sofreu quaisquer danos”, reconhecendo que apesar da vida prosseguir após a catástrofe, a verdade é que o tempo em que se realizará o evento final de MotoGP não será o ideal.
O organizador do campeonato enviou mesmo algumas informações atualizadas às equipas onde refere, entre outras coisas, que “Como podem compreender, seria insensível e irresponsável discutir (a realização) o evento neste momento. O foco deve manter-se em ajudar aqueles que foram afetados, e o circuito está a ser usado como ponto de ajuda. Como MotoGP, temos de ajudar da forma que conseguirmos. Contudo, tanto as autoridades locais como o MotoGP estão a procurar garantir que o evento decorre como planeado e vão trabalhar incansavelmente para atingir esse objetivo. Vamos continuar a dar informações adicionais conforme ficarem disponíveis e vamos comunicar quaisquer alterações na organização do evento assim que possível”, refere o comunicado da Dorna entregue às equipas.
No seguimento desta situação que deixa um cenário de indefinição a pairar sobre o que será o último Grande Prémio da temporada 2024, alguns diretores de equipas da categoria rainha também aproveitaram a ocasião para se pronunciarem.
Gino Borsoi, diretor da equipa Pramac Racing, está a sofrer mais com esta situação de emergência, pois reside em Valência. “Estes eventos (naturais) não dependem de nós, mas o que depende de nós é encontrar forma de ajudar aqueles que sofreram e continuam a sofrer porque infelizmente isto é apenas o início. A comunidade está devastada, especialmente a zona a sul, a área onde está o circuito e onde eu vivo. Eu tive sorte, mas a área está numa situação crítica e não conseguimos compreender como está complicado”, refere Borsoi.
Davide Brivio, diretor de equipa da Trackhouse Racing, segue a mesma linha de pensamento. Para o italiano, “Tudo pode acontecer, mas tenho muitas dificuldades em pensar que nesta situação de emergência podemos direcionar recursos para restaurar os acessos ao circuito ou organizar um evento desportivo. As prioridades são outras. Temos de as respeitas e, se possível, contribuir para ajudar”.
Pablo Nieto, responsável pela equipa VR46, não esconde que “Foi uma catástrofe, estou muito preocupado e triste com o que aconteceu. O Grande Prémio é o nosso último pensamento, porque deveria ser uma celebração, e na minha opinião, competir ali será no limite”, sendo então mais uma voz que se junta às restantes opiniões que o Grande Prémio da Comunidade Valenciana não deverá realizar-se.
Francesco Guidotti, diretor de equipa da KTM, diz que “A primeira coisa tem de ser respeitar as pessoas que perderam as suas vidas nestas circunstâncias e todos os que precisam de ajuda. Todos os recursos necessários devem ser direcionados para quem precisa de um teto sobre as suas cabeças. Quanto à corrida, vamos ter tempo para considerar o como, onde e se a fazemos ou não. O primeiro pensamento é para as vítimas e todos os que precisam de apoio”.
Também Davide Tardozzi, da equipa de fábrica da Ducati, mostra estar plenamente consciente das dificuldades que a Dorna enfrenta neste momento inesperado e trágico. O histórico responsável italiano refere que “Penso que não é justo estar a falar com a Dorna agora, porque tenho a certeza que estão a fazer o melhor e vão necessitar de pelo menos um par de dias para entender a situação. Tenho a certeza que nos vão dizer alguma coisa entre sábado e domingo e dar-nos o melhor final de temporada possível”.
Veremos qual será a decisão tomada pela Dorna para o caso de se perceber que não será mesmo possível, quer em termos logísticos, quer também em termos éticos, conforme destacam os pilotos e diretores de equipa, realizar o Grande Prémio da Comunidade Valenciana.
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