Cada vez mais automóveis surgem com sistemas de controlo de velocidade de cruzeiro adaptativo (ACC), ajustando também a velocidade para além de ajudar a manter uma distância segura.
Em termos de consumos de combustível (ou energia, nos carros elétricos), contextos diferentes produzem prestações diferentes. Segundo um estudo publicado na revista Nature em novembro de 2024, há contextos em que os seres humanos levam vantagem, e outros em que os sistemas de controlo de velocidade de cruzeiro levam a melhor.
Os autores explicam que concluíram “que certas manobras são melhor executadas por sistemas de condução automatizados, enquanto outras são melhor executadas por humanos“. Muito depende do contexto do trânsito em cada momento.
Situações de estrada aberta: Humanos ‘ganham’
A seguir na velocidade de cruzeiro em situações de estrada aberta, foi verificada uma penalização de 0,14 litros por 100 km no consumo de combustível ao ativar o controlo de velocidade de cruzeiro adaptativo.
Entende o documento que os sistemas de controlo de velocidade de cruzeiro desperdiçam energia por atuarem para cumprirem rigorosamente a velocidade definida em quaisquer condições de terreno e de estrada. Assim, se esse rigor for relaxado, mais à semelhança do comportamento humano, é possível melhorar significativamente a economia de combustível – ou de energia no caso das viaturas elétricas.
Para os autores do estudo, há a hipótese de os humanos tenderem “a manter uma posição do pedal relativamente constante e permitir que a velocidade do veículo varie ligeiramente (por vezes sem reparar), particularmente a mudar de terreno e em condições de estrada aberta, em que o trânsito não é uma preocupação significativa”.
Sistema modificado para variações de velocidade
O estudo recorreu a um sistema de controlo de velocidade de cruzeiro adaptativo modificado para ter pequenas variações de velocidade (de até 8 km/h) em adaptação a diferentes declives da estrada. Realizaram-se testes comparativos entre cada tipo de sistema. O modificado revelou “maior economia de combustível do que o controlo de velocidade de cruzeiro de série em todos os veículos testados”.
E qual foi a poupança média? De 3,5 por cento nos automóveis a gasolina e 3,9 por cento no caso das viaturas a gasóleo. Já nos elétricos, houve uma poupança energética de 3,8 por cento.
Fica a recomendação do estudo para que sistemas futuros adotem uma atuação mais flexível, até porque “há provas de que os ocupantes humanos são mais tolerantes” a mudanças do sistema com a crescente introdução de sistemas de condução automatizados de Nível 2/3.
Condução dinâmica e em tráfego
Há “penalizações de consumo de combustível por ativar o controlo de velocidade de cruzeiro adaptativo em todas as manobras estudadas” sem veículo à frente. No entanto, manobras mais dinâmicas como travar/acelerar e travar/parar/acelerar envolvem “alguns benefícios”.
Considerando apenas casos com um veículo à frente, existem “benefícios de consumo de combustível”. Diz o estudo que “embora o controlo de velocidade de cruzeiro seja menos eficiente do que os humanos, em média, no conjunto dos dados examinados, é mais eficiente do que os humanos, em média, quando está a seguir outro veículo“.
Se em estrada aberta o controlo de velocidade de cruzeiro penaliza os consumos, já se estiver uma viatura à frente o sistema “permite que a velocidade do veículo caia abaixo da velocidade definida pelo condutor de forma a manter uma distância de segurança confortável para a viatura à frente”.
De acordo com o estudo, “nos casos em que veículos à frente, conduzidos por humanos, podem naturalmente reduzir a velocidade devido a inclinações ou outros fatores externos”, um controlo de velocidade de cruzeiro adaptativo vai fazer a redução de velocidade necessária para manter a distância adequada.
Nesse processo, apresenta um comportamento próximo da eficiência humana, sem incorrer em comportamentos de condução menos eficiente. A mesma “oportunidade assimétrica”, como é descrita pelo trabalho, é revelada em manobras comuns no tráfego rodoviário intenso.
Os sistemas tendem a apresentar calibrações agressivas para atingir as velocidades pretendidas o mais rapidamente possível. Mas, com uma viatura à frente, um controlo de velocidade de cruzeiro adaptativo tem a capacidade de “reduzir o consumo de combustível ainda mais em manobras de travar/acelerar e de travar/parar/acelerar” – não acelera mais agressivamente do que a calibração permite, mas mantém a eficiência atrás de um condutor eficiente.
Aceleração e travagem
Em aceleração rigorosa, o controlo de velocidade de cruzeiro adaptativo permite reduzir o consumo de combustível em 0,71 litros por cada 100 quilómetros, já que está limitado a uma aceleração máxima muito inferior ao limite do veículo. Já o ser humano não tem, necessariamente, esse limite, uma vez que pode operar toda a capacidade do motor.
Em travagem pura, vê-se uma tendência inversa, com o controlo de velocidade de cruzeiro a levar a um aumento de 0,33 litros por 100 quilómetros nos consumos. Porquê? Segundo o estudo, é possível que esteja associado aos “altos rácios de desaceleração” definidos pelos fabricantes.
Em estrada aberta, os abrandamentos só podem ser ditados a pedido do condutor, enquanto nas situações de veículos à frente com atuação do controlo de velocidade de cruzeiro adaptativo a penalização em travagem “é cerca de 30 por cento menor do que a média do conjunto de dados”. A hipótese levantada pelos autores do trabalho relaciona-se à menor capacidade humana para abrandar mais eficazmente.
Leia Também: Preço dos combustíveis desce hoje. Saiba quais são os postos mais baratos