Nos últimos dias, a União Europeia e os Estados Unidos da América chegaram a um acordo comercial, que vai para além da questão das tarifas que tanto tem dado que falar nos últimos meses.
Um dos pontos do anúncio diz respeito ao setor automóvel em concreto e parece deixar a ‘porta aberta’ para aquela que poderia ser uma pequena revolução no mercado – mais concretamente, a possibilidade de modelos homologados nos EUA poderem circular na UE, e vice-versa.
Lê-se no ponto 8: “Os Estados Unidos e a União Europeia tencionam aceitar e fornecer reconhecimento mútuo aos padrões de cada um. […]. A União Europeia e os Estados Unidos comprometem-se a melhorar oportunidades para cooperação técnica entre as organizações de desenvolvimento de padrões da UE e dos EUA, com o objetivo de identificar e desenvolver padrões para o mercado transatlântico em setores chave de interesse mútuo”.
Segurança rodoviária preocupa
Ora, o Conselho Europeu para a Segurança nos Transportes (ETSC) já veio reagir a este comunicado de Bruxelas e de Washington. E expressa preocupação.
Antonio Avenoso, diretor-executivo da entidade, disse num comunicado publicado no site oficial: “Ao assinar o reconhecimento mútuo de padrões de veículos com os Estados Unidos, a União Europeia mostrou a bandeira branca na segurança rodoviária. Este não é um detalhe técnico, é uma escolha política que põe a conveniência comercial à frente do salvar vidas“.
O dirigente salientou a importância dos requisitos de homologação de veículos na UE, que exigem tecnologias que podem salvar vidas a condutores, passageiros, ciclistas e peões – ao contrário do que acontece nos EUA. E foi mesmo mais longe: “Permitir veículos americanos no mercado da UE na base do ‘reconhecimento mútuo’ dos padrões é uma traição à liderança europeia em segurança, e irá custar vidas“, disse.
No entender de Antonio Avenoso, corre-se o risco de as estradas europeias passarem a ter uma enchente de “pick-ups e SUVs de grandes dimensões e pouco regulados dos EUA” – que representam maiores riscos para todos os utentes das vias.
Já o diretor de comunicação do ETSC recordou à Euronews alguns sistemas de segurança a bordo que são obrigatórios na UE, mas não nos EUA, e têm um papel fundamental na proteção de todos.
Para além disso, sublinhou a possível “pressão” para que os padrões europeus sejam aliviados para todos: “Todos os outros fabricantes, japoneses, chineses, coreanos e europeus, que fabricam na Europa, vão dizer: Se eles [EUA] têm de cumprir apenas a norma americana e nós temos de cumprir a norma europeia, não é justo, vai criar uma concorrência desleal”.
Por que é que os padrões de homologação são importantes?
A União Europeia adota uma abordagem mais universal do que os Estados Unidos da América no que toca à segurança dos veículos – impondo exigentes níveis de seguranças não só para os ocupantes, como também para os demais utentes das vias. Requer sistemas de segurança como travagem de emergência automática ou até sistemas de chamadas de emergência em caso de acidente, dependendo da idade do veículo.
As normas de emissões também são diferentes, com um foco maior em combater os gases com efeitos de estufa na Europa. Os EUA, por seu turno, concentram-se em regular poluentes como o óxido de nitrogénio.
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