Sem categoria Renault 4 E-Tech. Testámos o neoclássico elétrico

Renault 4 E-Tech. Testámos o neoclássico elétrico


Na sua transição elétrica, a Renault reinventou alguns dos seus ícones – incluindo o Renault 4, por muitos carinhosamente apelidado de Quatrelle ou Quatro Latas. Agora, é um neoclássico elétrico na forma do Renault 4 E-Tech, que surge 31 anos depois do fim do original em 1994.

 

Desengane-se se pensar que vai encontrar neste novo modelo aquilo que encontrava no antigo hatchback. O carro, que também teve versões de carrinha e pick-up ao longo das suas mais de três décadas, renasceu como um modelo totalmente elétrico com carroçaria SUV.

O novo crossover subcompacto, que chegou ao mercado este ano, é baseado na plataforma AmpR Small. Continua a ser uma boa opção para as famílias, prático e versátil, mas não diríamos que seja um sucessor direto do lendário 4. Até porque são carros muito diferentes tecnologicamente.

O Auto ao Minuto testou o carro ao longo de quatro dias, com deslocações urbanas e interurbanas (incluindo alguma autoestrada, mas sobretudo em estradas nacionais mais sinuosas, dentro de localidades, embora também tenhamos apanhado pequenos trajetos de vias rápidas e de vias equiparadas). A versão por nós ensaiada foi a techno 150 cv, com uma cor castanho terracotta e tejadilho preto a marcarem o tom cromático exterior. E, por falar em exterior, a Renault acertou em cheio no design.

Design

O Renault 4 E-Tech visto lateralmente© Notícias ao Minuto

Pelas mãos de Gilles Vidal, o fabricante sintetizou o contemporâneo e o clássico, reinterpretando idealmente o design do Renault 4 original para os dias de hoje e para um crossover SUV subcompacto. Ao olhar para o automóvel, sente-se esse caráter neoclássico, bem como a atenção ao detalhe.

O 4 está presente em várias partes da carroçaria e, no vidro frontal, encontrámos um discreto emblema de um galo – um importante símbolo nacional de França. A grelha frontal ilumina-se ainda antes de o condutor entrar no carro, incluindo o logótipo central da Renault iluminado.

Atrás, a Renault optou pelo minimalismo, sem grandes extensões ou faixas de luzes: apenas a reinterpretação dos farolins da Quatro Latas original. A antena shark mal se nota, e as jantes em liga leve de 18 polegadas sixties com corte diamantado preto do automóvel testado dão um ar moderno ao carro.

Demasiadas hastes na zona do volante?

A zona do volante e do condutor© Notícias ao Minuto

Ao entrar no carro, a primeira impressão que chamou a atenção foi a quantidade de hastes por trás do volante – as tradicionais dos piscas, luzes e do limpa para-brisas, mas também uma para controlar a reprodução multimédia e outra para a transmissão. Que, sendo um automóvel 100 por cento elétrico, tem apenas marcha-atrás, ponto morto e D.

Ainda se acrescentam duas patilhas para operar o nível de travagem regenerativa – que pode ir do zero ao One Pedal, em que o automóvel pode parar completamente sem precisar de carregar no pedal do travão.

O que ao princípio nos pareciam demasiados controlos na área por trás do volante, revelou-se um conjunto prático, permitindo aceder às diversas funções sem ter de tirar as mãos do que mais importa – o volante. Agradou-nos, em particular, a alavanca de seleção de caixa, que acrescenta um espírito old style a este Renault.

Permite, também, dispensar a tradicional alavanca na consola central, libertando mais espaço de arrumação para pequenos objetos e para uma bandeja para carregamento sem fios de smartphones. Porém, o seu posicionamento torna-a facilmente confundível com a do para-brisas – pelo menos, para quem está a começar a ganhar rotinas com o carro.

O volante em TEP, suave, permite controlar não só a direção, como também as funções essenciais de regulação do cruise control, modo de exibição do painel de instrumentos ou o Renault multi-sense.

Prático e simples de conduzir

O Renault 4 E-Tech é um carro que nos deixou confortável ao volante desde os primeiros metros. O único aspeto que nos causou alguma estranheza e exigiu algum tempo de adaptação foi a travagem regenerativa em modo One Pedal – cujo efeito é muito pronunciado.

A resposta do acelerador é imediata, neste carro de tração dianteira – assim como era o original.

Os bancos são confortáveis, com estofos em tecido totalmente reciclado e um acolchoado jean que se estende também a outras partes do interior. Para além do tato agradável, dá um aspeto descontraído e divertido ao habitáculo.

Há dois ecrãs no Renault 4 E-Tech que ensaiámos. O painel de instrumentos de 10 polegadas logo à frente do condutor tem múltiplos modos de exibição que incluem toda a informação essencial (e ainda mais, incluindo por exemplo a rádio ou música que está a tocar). Tudo disposto de forma prática e intuitiva. Gostámos dos mapas de navegação lá poderem ser exibidos, minimizando o desvio do olhar.

Ao centro, há o ecrã de 10,1 polegadas que constitui a base do infoentretenimento e do controlo de diversas configurações do veículo. O sistema multimédia é o OpenR Link, que à entrada e saída saúda os ocupantes através do reno – o simpático avatar oficial da Renault.

A navegação no sistema é simples e intuitiva, e apresenta informações importantes (como a pressão dos pneus) e interessantes (como a pontuação da condução ao nível de segurança e da eficiência energética, que dá uma noção importante ao condutor).

De facto, consultámos várias vezes a pontuação da condução, procurando perceber se era possível melhorar a forma de guiar o carro quer do ponto de vista da segurança, quer da economia de combustível – desculpem, de energia elétrica.

Falámos dos modos de condução Multi-Sense incluídos neste Renault 4 E-Tech. Para além das sensações de condução diferentes que proporcionam, dotam o sistema de multimédia e o painel de instrumentos de gráficos e cor próprias (incluindo na iluminação ambiente). O verde para Eco, o cor-de-laranja avermelhado para Comfort e Sport (talvez, aqui, pudessem ser tons diferentes para uma maior distinção) e roxo para as definições personalizadas.

Igualmente úteis são as ferramentas de regulação de velocidade, começando pelo limitador que garante que a velocidade máxima nunca é excedida. E, com a informação dos limites de velocidade exibida no painel de instrumentos, não há desculpas para infrações por distração.

O cruise control adaptativo é eficaz e cumpre bem as suas funções, assim como o aviso e assistente de saída de faixa. Como já referimos, o carro passou-nos, constantemente, a sensação de estarmos em segurança.

O espaço para os passageiros da frente é mais do que suficiente para viagens confortáveis mais longas, mas os dos bancos de trás pareceu-nos limitado no caso de os passageiros da frente serem maiores e precisarem de recuar mais os seus bancos.

O carro não dispensa botões analógicos. Para além das múltiplas hastes e botões no volante, há para os quatro piscas, trancar em andamento, controlo de climatização e para os vidros. Ora, o controlo para abrir e fechar os vidros encontra-se inserido nos painéis das portas numa posição descendente – o que tirou alguma intuição (abrimos, por engano, um vidro traseiro em vez do vidro do condutor, mais do que uma vez).

A bagageira é prática. Com volume máximo de 1.149 litros, tem compartimentos práticos em que pode arrumar os cabos de carregamento.

Autonomia e carregamento

O interior visto a partir do porta-bagagens© Notícias ao Minuto

O Renault 4 E-Tech é um SUV elétrico com um peso em ordem de marcha que ronda os 1.500 kg. Apesar de dizermos que é confortável para deslocações mais longas e permitir transportar uma quantidade de carga muito razoável, a autonomia não acompanha.

Embora seja razoável, não se pode pedir para percorrer grandes distâncias numa só carga com uma bateria de 52 kWh e 150 cv de potência máxima. Há, também, uma versão de 40 kWh.

O Renault 4 E-Tech que conduzimos é anunciado com um consumo em ciclo combinado WLTP de 15,5 kWh e autonomia de 410 km (WLTP) ou 398 km em ciclo combinado. Terão sido os parâmetros cumpridos?

Pegámos no automóvel com 100 por cento de bateria e uma autonomia estimada para 341 km, estando nos 3.671 km percorridos até à altura. Ao devolvermos, tinha autonomia para mais 138 km, após um total acumulado de 236km nas nossas mãos. Teoricamente, poderia ir até aos 374 km, relativamente em linha com o anunciado para ciclo combinado.

No comunicado de imprensa que apresentou o modelo, Fabrice Cambolive, diretor da marca Renault, falou de um carro “capaz de satisfazer uma grande variedade de necessidades quotidianas” e de um modelo “compacto com muito espaço”. Algo que nos parece ser cumprido pelo Renault 4 E-Tech, com a sua autonomia e interior relativamente espaçoso – embora, como dissemos, pudesse ter mais espaço para os passageiros de trás em viagens mais longas. Porém, tendo em conta a autonomia da versão de 52 kWh, deslocações de grande distância não são o propósito principal do 4, apesar de não deixar de ser versátil.

Preços

O tejadilho contrastante do Renault 4 E-Tech© Notícias ao Minuto

Em Portugal, o Renault 4 E-Tech está disponível em duas versões de bateria: 40 kWh com 120 cv de potência na variante Evolution a partir dos 29.500 euros marca a entrada na gama.

Depois, há três versões com bateria de 52 kWh e 150 cv de potência. Aqui, a entrada faz-se no nível de equipamento Evolution por 33.000 euros, seguindo-se a Techno (35.000 euros) e Iconic (37.000 euros). A unidade ensaiada, Techno, com o equipamento de que estava dotada, sobe o preço para 38.590 euros.

ESPECIFICAÇÕES TECNICAS

 

RENAULT 4 E-Tech

MOTOR

Posição
Dianteira

Potência
150 cv

Binário
245 Nm

TRANSMISSÃO

Tração
Dianteira

Caixa de velocidades
Caixa automática

CHASSIS

Travões
Discos ventilados

DIMENSÕES E CAPACIDADES

Comp. x Larg. x Alt.
4.144 mm x 2.020 mm x 1.522 mm

Distância entre eixos
2.624 mm

Capacidade da mala
375 l a 1.149 l

Capacidade da bateria
52 kWh

Rodas
FR: 195/60 R18; TR: 195/60 R18

Peso
1.462 kg

PRESTAÇÕES E CONSUMOS

Velocidade máxima
150 km/h

0-100 km/h
8,2s

Consumo misto
15,5 kWh/100 km

Autonomia
398 km (combinado WLTP)

Emissões CO2
0 g/km

7

0-10

ANÁLISE

 

O Renault 4 E-Tech é um crossover SUV subcompacto ágil e capaz, prático para as famílias – embora o espaço traseiro pudesse ser mais generoso. Também tem carisma e é apelativo aos saudosistas ao replicar de forma contemporânea o design do icónico Renault 4. Não é o mais impressionante em termos de prestações, mas também não é o que se pede, enquanto a autonomia o torna capaz para muitas das deslocações pendulares de casa para o trabalho e vice-versa.

Design neoclássico
Superfícies interiores agradáveis ao tato
Autonomia mais do que suficiente para as necessidades quotidianas

Espaço para os passageiros traseiros poderia ser um pouco maior
Efeito de travagem forte no modo One Pedal estranha-se inicialmente
Disposição da alavanca da caixa de velocidades

 

Leia Também: A metamorfose do antigo Twingo para o novo Twingo E-Tech

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