Ao longo dos anos, os automóveis elétricos e eletrificados têm-se tornado mais comuns, mesmo se não estão a ser adotados ao ritmo que os fabricantes esperavam – levando muitos a rever os seus planos de eletrificação das gamas.
Atualmente, a União Europeia prevê proibir novos carros a combustão a partir de 2035. Mas será que o futuro será exclusivamente elétrico? O assunto foi abordado esta sexta-feira, na convenção anual da Associação Nacional das Empresas do Comércio e da Reparação Automóvel (ANECRA).
Para além de estarem a ser desenvolvidos combustíveis de origem biológica, que mitigam ou anulam as emissões de dióxido de carbono no funcionamento dos motores, vários fabricantes apostam no desenvolvimento de motorizações a célula de combustível de hidrogénio. Mas ainda existem obstáculos do ponto de vista dos custos, disponibilidade e até de infraestrutura de reabastecimento. Depois, há os vários tipos de carros híbridos, que são eletrificados, e os 100 por cento elétricos.
João Reis, da Plataforma para a promoção de combustíveis de baixo carbono, comentou: “Se pensarmos, apenas, em termos de mobilidade, estou convencido de que não vamos ter apenas eletrificação. Será, aliás, absolutamente impossível. A resposta é, mais ou menos, aquela que um senhor chamado Yamani, ministro dos petróleos da Arábia Saudita – que uma vez disse que como a idade da pedra não tinha acabado por falta de pedra, a idade do petróleo não ia acabar por falta de petróleo”.
O representante daquela organização reconheceu a preponderância da energia elétrica na economia, exemplificando com o investimento feito em centros de dados – grandes consumidores de eletricidade. Quanto à mobilidade, descarta uma eletrificação total: “Vamos continuar a ter motores de combustão interna – cada vez mais desenvolvidos. A idade do petróleo tem tendência a acabar – e irá acabar, os combustíveis fósseis irão acabar. Os combustíveis não. Os combustíveis líquidos e gasosos de baixo carbono terão um papel fundamental na redução da emissão de gases”.
No entender de João Reis, os combustíveis com baixo teor de carbono serão parte da solução: “As vendas globais de veículos elétricos foram à volta de 30 por cento. Ainda temos, hoje, 70 por cento de veículos que são vendidos. E temos todo o outro parque que irá continuar. Os carros que estão a ser vendidos hoje e que irão continuar a ser vendidos terão uma vida longa. E, naturalmente, precisarão de combustível. É aí que dizemos que os combustíveis de baixo carbono, que têm nesse ciclo de vida completo emissões zero, serão fundamentais”.
Na mesma convenção, o COO da Shell e Prio Truck, Guilherme Marques, foi questionado sobre se considera que opções como biocombustíveis ou hidrogénio fazem parte do futuro. E retorquiu: “É óbvio que fazem, porque com o total de parque que temos, era uma estupidez acelerar a substituição por veículos que vão emitir carbono. A produção desses veículos vai emitir carbono para o planeta. E, de facto, os biocombustíveis de primeira geração não eram, para mim, solução – porque eram produzidos a partir de matéria alimentar. Os de segunda geração são, de todo, viáveis, porque são produzidos através de matéria que iria poluir o nosso planeta e garante uma economia circular. O elétrico vai acontecer, mas irá acontecer na renovação de frota. Estar a substituir e a forçar a substituição da frota atual por elétricos é, para mim, um erro. Temos de ser inteligentes”.
