O BYD Atto 3 é um C-SUV 100 por cento elétrico de conceção e fabrico chinês. Está implementado no mercado português, propondo uma autonomia superior a 500 km.
O Auto ao Minuto conduziu o modelo na versão Comfort durante alguns dias, testemunhando em primeira mão como é lidar com um automóvel da China. E dizemos desde já: não é em nada diferente de conduzir um modelo ocidental.
As especificações
O BYD Atto 3 é um carro com até 565 km de autonomia em ciclo urbano e 420 km em combinado (algo atrativo para os condutores que estejam relutantes a fazer a transição por receios relativos à autonomia, da qual falaremos mais à frente). O consumo anunciado é de 16 kWh por quilómetro em combinado e 12 kWh por quilómetro em urbano.
Assente na plataforma e-Platform 3.0, tem tração dianteira e um motor com 204 cv de potência. A velocidade pode atingir os 160 km/h, com a aceleração dos 0 aos 100 km/h a fazer-se em 7,3 segundos – prestações mais do que suficientes para um automóvel deste tipo.
Em termos de dimensões, o comprimento é de 4.455 milímetros, sendo a largura de 2.075 milímetros (espelhos retrovisores incluídos) e a altura de 1.615 milímetros. A distância entre eixos é de 2.720 milímetros e a distância ao solo varia entre 150 e 180 milímetros (carga máxima e sem carga).
A lista de equipamento é surpreendentemente extensa: conectividade Android Auto e Apple CarPlay, carregador sem fios, filtro de partículas, apoios de braços à frente e atrás, com suportes de copos, iluminação LED, bancos em pele vegan, volante multifunções aquecido, sensor de chuva.
As assistências à condução são diversas, desde a deteção do ângulo morto ao assistente de mudança de faixa de rodagem, passando pelo reconhecimento de sinais de trânsito, travagem automática de emergência, alertas de colisão dianteira e traseira, três modos de condução, auto hold, entre outros.
Condução
O posto de condução do BYD Atto 3© Notícias ao Minuto
Tivemos o BYD Atto 3 em mãos durante quatro dias e fizemos uso do mesmo em situações variadas – autoestrada, deslocações interurbanas por estradas nacionais e citadinas, tal como uso em contexto urbano.
É um automóvel ágil, previsível e estável. Sentimos o volante responsivo, mas talvez com uma sensação ligeiramente pesada em certos momentos – e não só quando está ligado o assistente de manutenção na faixa. A direção poderia ser mais precisa.
A posição de condução não é demasiado alta nem baixa e permite ter uma boa visibilidade para a estrada e um bom enquadramento com a instrumentação. O automóvel propõe três modos de condução (Eco, Normal e Sport), mas o comportamento não nos parecera realmente representar diferenças significativas.
Os dois modos de regeneração da travagem têm algumas disparidades, sentindo-se a maior agressividade daquele que mais permite regenerar. No entanto, a força de travagem não impressiona tanto como noutros elétricos que já conduzimos.
A sensação de travagem não é desconfortável para o condutor, com a resposta do pedal imediata, eficaz e a transmitir sempre uma sensação de que será possível parar em segurança, sem sobressaltos – mesmo em situações mais imediatas. Os travões, diga-se, incluem discos ventilados.
As suspensões são suaves e absorvem bem as irregularidades e lombas típicas das estradas citadinas – um sistema MacPherson à frente e multilink atrás. As ajudas à condução cumprem o que prometem no geral. Os 2.160 kg de peso bruto do automóvel não se sentem negativamente no seu comportamento. De resto, é um peso em linha com o seu segmento.
Há uma função de limitador de velocidade inteligente e o cruise control adaptativo, em que o condutor pode escolher se quer estar mais ou menos próximo de veículos à frente – tudo gerido por botões no lado esquerdo do volante, assim como a ajuda de manutenção na faixa. No entanto, achámos algo difícil e pouco intuitivo de operar e sentimos falta de um limitador de velocidade tradicional.
Bateria, autonomia e carregamento
A BYD Blade Battery, de fosfato de ferro-lítio, tem 60,48 kWh de capacidade e promete uma autonomia que pode chegar aos 565 km em ciclo urbano e 420 km em ciclo combinado – que foi o uso que nós fizemos durante o ensaio.
Percorremos sensivelmente 220 km até ficarmos com 39 por cento de bateria, antes do carregamento (180 km de autonomia projetada na altura, o que daria 400 km – pouco menos do que a anunciada). Consideramos um comportamento competente.
O carregamento rápido, com potência de até 110 kW, promete repor os níveis dos 10 aos 80 por cento em 35 minutos e dos 30 aos 80 por cento em 28 minutos. Terá cumprido? Num posto público de carregamento rápido, passado uma hora, regressámos ao carro e a bateria estava completamente recarregada com 440 km de autonomia projetada.
Design de contrastes
BYD Atto 3© Notícias ao Minuto
Por fora, confessamos que o automóvel não nos chamou muito a atenção. Mostra-se discreto, sem características que o destaquem visualmente. A assinatura luminosa (totalmente em LED) é elegante, assim como as linhas exteriores no geral. Experimentámos uma versão em preto Cosmos Black, mas também há opções em azul Surfing Blue, Branco Skiing White e cinzento Climbing Grey.
Desenho exterior pouco vistoso, desenho interior extravagante. Não se percebe muito qual a intenção dos designers da BYD e acaba por ser tanto ao mesmo tempo para absorver. Há muito a acontecer visualmente e os materiais não são propriamente premium. E, em especial com a climatização ligada, sente-se um cheiro a químicos.
O tablier tem um formato ondulado, a consola central parece-nos inspirada por um avião (a alavanca das mudanças assemelha-se à alavanca de potência de um avião). As portas têm práticas cordas que não só sustêm objetos lá colocados, como também permitem tocar como se fosse uma guitarra. É uma forma interessante de também poder descontrair a bordo.
E as ventilações assemelham-se a… talvez os discos dos pesos de um ginásio arrumados? Já as maçanetas das portas, com colunas integradas, têm um aspeto que não conseguimos definir, com dimensões que nos parecem ser demasiado grandes.
O controlo dos vidros, fecho automático e dos espelhos retrovisores é feito nas portas: o conjunto de botões para estas funções está disposto num plano inclinado a descer para a frente do BYD Atto 3 – o que não favorece a operação por intuição.
O intuitivo ecrã central rotativo de 12,8 polegadas é prático e simples de consultar e operar. É, até, versátil, permitindo ver a informação na horizontal ou vertical conforme o condutor preferir. No entanto, ao estar ligada a navegação do telemóvel ligado por Android Auto não permite sair da posição horizontal.
Depois, há um painel de instrumentos TFT à frente do condutor. A consulta é intuitiva, mas sentimos que as suas cinco polegadas são pequenas, perdendo-se um pouco a visibilidade do mesmo por trás do volante.
Na consola central, existem vários botões, dispostos de uma maneira que pode não ser intuitiva o suficiente para dispensar desviar o olhar: ao centro, está o botão de ligar e desligar e, abaixo dele, o travão de estacionamento, seguindo-se o botão para desativar o controlo de tração.
À direita, o botão dos quatro piscas está em destaque, acima de dois interruptores relativos às ajudas de estacionamento. O travão automático está praticamente ao lado do botão do travão de estacionamento. À esquerda, há um basculante para controlar o sistema multimédia, controlos da climatização e, em baixo, o botão para escolher os modos de condução – a nosso ver, demasiado longe do condutor.
A visibilidade pelo retrovisor interno para a traseira não é das melhores, mas em compensação o BYD Atto 3 que tivemos em mãos está munido com uma multiplicidade de câmaras e ângulos de vídeo exterior que ajudam ater uma boa noção do espaço ao redor. A isto, acresce-se o aviso de ângulo morto, que alerta eficazmente o condutor para a presença de viaturas que surjam por trás e não estejam no seu campo de visão através dos espelhos retrovisores.
As superfícies internas revestidas são suaves ao toque e os bancos em pele vegan são, no geral, confortáveis. O preto domina a decoração. O espaço é generoso, quer à frente, quer atrás, e o apoio para braços frontal também favorece a comodidade.
O habitáculo podia ser mais insonorizado, em especial a velocidades mais altas, com o ruído do vento bem percetível em contraponto com o silêncio natural do funcionamento de um automóvel elétrico.
O sistema de infoentretenimento é prático e intuitivo. Através dele, é possível aceder a informações como a pressão dos pneus, gerir a temperatura de climatização, aceder e mudar diversas configurações (como a intervenção de algumas ajudas à condução ou até a iluminação interior).
Por falar em iluminação interior, o BYD Atto 3 torna-se mais divertido para quem gosta de música: as luzes da iluminação ambiente respondem ao ritmo musical, se assim estiver configurado pelo utilizador. E, claro, não podemos falar do interior sem falar do tejadilho panorâmico que se pode abrir.
Quanto ao espaço de arrumação, os 440 litros da bagageira não são curtos para um C-SUV, mas esses até podem aumentar para 1.338 litros ao rebater os bancos de trás.
Para além disso, há vários compartimentos no habitáculo, como debaixo do suporte central para braços, porta-copos na consola ou a bandeja de carregamento sem fios para um telemóvel (se não for usada para o seu propósito). Por baixo da consola central, numa solução pouco vista, há uma grande abertura que revela um espaço de arrumação extra. Lá, encontram-se as tomadas USB da frente (há outras duas atrás).
Em resumo
Consola central do BYD Atto 3© Notícias ao Minuto
Quem entra no BYD Atto 3 não pode esperar o carro com um interior premium – longe disso. Mas pode esperar um automóvel capaz, bem equipado para a sua faixa de preços. É uma proposta acessível para o seu segmento – no momento de escrita deste artigo, situam-se a meio em pouco menos de 40 mil euros.
É cómodo e divertido para os passageiros (com recursos como a iluminação a responder ao tom musical ou as cordas nas portas), quebrando a monotonia de deslocações e passeios um pouco mais longos. E o BYD Atto 3 pode fazê-las, com a sua autonomia e desempenho. Para o condutor, sentado num banco confortável, as sensações de condução não comprometem, mas também não diríamos que seja um automóvel divertido e ‘interativo’ de conduzir.
ESPECIFICAÇÕES TECNICAS
BYD ATTO 3
MOTOR
Posição
Eixo dianteiro
Tipo de motor
Magneto permanente
Potência
150 cv
Binário
310 Nm
Tipo de bateria
Fosfato de ferro-lítio (LFP)
TRANSMISSÃO
Tração
Dianteira
Caixa de velocidades
Velocidade única
CHASSIS
Suspensão
FR: MacPherson; TR: Muti-link
Travões
FR: Discos ventilados; TR: Discos ventilados
Direção
Assistência elétrica
DIMENSÕES E CAPACIDADES
Comp. x Larg. x Alt.
4.455 mm x 2.075 mm x 1.615 mm
Distância entre eixos
2.720 mm
Capacidade da mala
440 l (1.338 l com bancos rebatidos)
Capacidade da bateria
60,48 kWh
Rodas
FR: 235/50 R18 (18”); TR: 235/50 R18 (18”)
Peso
2.160 kg
PRESTAÇÕES E CONSUMOS
Velocidade máxima
160 km/h
0-100 km/h
7,3s
Consumo misto
16 kWh/km
Autonomia combinada
420 km
Carregamento rápido DC (10-80%)
35 minutos
Carregamento doméstico AC (0-100%)
6h20m
7
0-10
ANÁLISE
O BYD Atto 3 é um SUV do segmento C totalmente elétrico com um bom comportamento a conduzir, previsível, estável e ágil. É confortável e prático, bem apetrechado de equipamento e com rendimento e consumos competentes. Tem um design que não impressiona por fora e rico por dentro (talvez até um pouco demasiado). O preço justifica o que é oferecido, num veículo versátil que acreditamos ser uma boa introdução a carros chineses e elétricos.
Autonomia
Interior confortável
Equipamento
Qualidade dos materiais interiores
Painel de instrumentos de dimensões reduzidas
Arrumação dos botões na consola central
